domingo, 28 de fevereiro de 2010

Agarre as oportunidades

Alguns homens nunca estão acordados quando o trem parte, mas se arrastam até a estação ainda a tempo de ver que todo mundo já partiu e, então, dizem sonolentos: "Puxa vida, o trem já partiu? Meu relógio deve ter parado à noite". Eles sempre chegam à cidade um dia após o início da feira e mostram suas mercadorias uma hora depois do mercado fechar. Eles aproveitam a oportunidade quando o sol se põe e cortam seu milho logo que o tempo bom termina. Eles gritam: "Segure firme!", depois que o tiro saiu do revólver e fecham a porta do estábulo quando já roubaram o cavalo. São como a cauda da vaca, sempre atrás; pegam o tempo pelo calcanhar, não pelo cabelo; se é que realmente o aproveitam de alguma forma. Não têm mais valor que um almanaque velho cuja validade expirou por falta de uso. Infelizmente, não podemos ignorá-los, como faríamos com o almanaque, pois são como a velha senhora rabugenta beneficiária de uma anuidade da qual pretende receber o valor integral; eles não morrem apesar de não terem serventia vivos. Como dizem, a calma e a vida longa são primos irmãos, o resto é compaixão. Se eles são imortais enquanto tiverem trabalho a fazer não morrerão logo, pois ainda nem começaram a trabalhar. Em geral, as pessoas ociosas se desculpam pela preguiça dizendo: "Eu só estou um pouco atrasado", mas um pouco atrasado é quase sempre muito atrasado, e um erro é um erro. Meu vizinho Sykes cobriu o poço depois que seu filho se afogou nele, enquanto ele estava muito ocupado na parte de baixo da velha fazenda trazendo baldes de água a fim de apagar o fogo que já tinha destruído toda a casa. Com certeza, ele fará seu testamento quando já não puder segurar a caneta e apenas pensará em se arrepender de seus pecados quando seus sentidos não funcionarem mais.

Essas carroças lentas pensam que amanhã é melhor que hoje e tomam por regra um antigo ditado transformado em confusão: "Não faça hoje o que pode deixar para amanhã". Eles estão eternamente esperando que seu navio chegue e estão sempre sonhando e procurando coisas do amanhã, enquanto a grama cresce na área de plantio, e as vacas passam através das brechas da cerca. Se os pássaros não fizessem nada além de esperar que alguém pusesse sal em suas caudas, que refeição eles levariam para casa, para suas famílias! Mas enquanto as coisas se movem em seu próprio ritmo, os mais jovens, em casa, terão de encher suas bocas com colheres vazias. Eles dizem: "Não importa, tempos melhores virão, esperemos mais um pouco". Seus pássaros todos estão no arbusto e, de acordo com a avaliação deles, raramente estão gordos, e precisariam estar, pois ainda não têm nada em mãos, e a esposa e as crianças estão quase mortos de fome. Eles dizem que alguma coisa acontecerá, mas por que os preguiçosos não fazem acontecer por si mesmos? O tempo e a maré não esperam por ninguém, e mesmo assim esses camaradas desperdiçam o tempo como se fossem donos dele e da vida e tivessem uma gaiola cheia de oportunidades. Eles descobrirão seu erro quando a necessidade acabar com eles, e isso não demora muito a acontecer com alguns em nossa aldeia que já estão há um bom tempo a caminho da terra da necessidade. Quem não ara não pode esperar ter alimento; os que desperdiçam na primavera têm um outono magro. Eles não malharam enquanto o ferro estava quente e logo descobrirão que o ferro frio é muito difícil de malhar.
"O que não quer enquanto pode, Recebe um não quando quer."
O tempo não fica amarrado ao poste como o cavalo, à manjedoura. Ele passa como o vento, e o que mói seu milho com o vento precisa pôr em movimento as velas do moinho. O que boceja até ser alimentado fará isso até morrer. Não se consegue nada sem sacrifício além de pobreza e sujeira. De acordo com o antigo dito: "O Jack progrediu por causa de sua estupidez". Penso que o Jack veria que isso é muito diferente hoje, mas o Jack, em tempo algum, progrediria pela tolice, deixando as oportunidades presentes escaparem dele, porque as lebres nunca chegam perto da boca dos cães enquanto eles dormem. Pois para quem tem tempo e espera sempre um momento melhor, chega o momento em que se arrepende do tempo perdido. Não adianta ficar deitado chorando: "Deus me ajude!". Deus ajuda os que ajudam a si mesmos. Quando vejo um homem que declara que as coisas não vão bem e que nunca tem sorte, em geral, digo a mim mesmo: "Aquele ganso velho não se sentou sobre os ovos antes de estarem todos fecundados e agora culpa a providência porque eles não chocaram. Na realidade, eu nunca tive fé na sorte, mas, em casos excepcionais, acredito que a sorte auxilia um homem a passar sobre um fosso se ele pular bem e coloca um pedaço de bacon em seu alforje se ele correr atrás de um porco. A sorte geralmente vem para aqueles que procuram por ela, e a meu ver ela bate na porta de todo mundo, pelo menos uma vez na vida, mas se não aproveitamos a oportunidade, ela vai embora. Os que perderam a última chance e deixaram cada oportunidade passar por eles, amaldiçoam a providência por pôr tudo contra eles: "Se eu fosse um chapeleiro, os homens nasceriam sem cabeças". Outro diz: "Se eu fosse procurar água no mar, ele secaria". Todo vento é louco para um navio desgovernado. Nem os sábios nem os ricos podem ajudar quem recusou ajudar a si mesmo por muito tempo. João Lavrador, de forma muito gentil, envia seus cumprimentos aos amigos e agora que a colheita terminou e o lúpulo está todo colhido, ele, conforme prometeu, pretende dar-lhes um pouco de poesia apenas para testar o polimento. João pediu que o ministro que lhe emprestasse as obras de um poeta, ele enviou a obra de George Herbert – sem dúvida, muito bom, mas tão difícil como Harkaway Wood. No entanto, uma boa parte desses estranhos versos antigos, de vez em quando, ainda aparece como cachos de nozes muito doces, mas algumas delas são ainda mais difíceis de quebrar. Embora o verso, a seguir, esteja próximo do que falei, na verdade, ele é bem simples, e João, apesar de pedir perdão ao poeta, não vê rima nele. Entretanto, como é de autoria do grande Herbert, ele tem de ser bom e é o bastante para ornamentar a palavra de João, como a flor colocada na lapela de um paletó domingueiro.
Deixa que teu pensar fique submisso, calmo, projetando onde, quando e como tuas ocupações podem ser feitas. A negligência cria larvas, mas o viajante confiante, mesmo que apeado algumas vezes, prossegue. Sozinho, age e impulsiona almas a viverem. Escreve sobre os outros, eis aqui um desses.
Charles Haddon Spurgeon - Sabedoria Bíblica

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Você se beneficia lendo autores com os quais você nem sempre concorda?

O que segue é uma transcrição editada de áudio


Existe algum autor – ou algum livro em particular – de quem você discorda e que você gosta de ler, ou que te desafia, apesar das duas discordâncias com ele?

Bem, sim, todos eles! - exceto a Bíblia. Nunca li um autor com quem eu concordasse em tudo.

Tenho sido bastante influenciado por C.S. Lewis, e ele tinha uma visão comprometida das Escrituras. Se você ler seu livro sobre os Salmos, verá que a forma como ele entendia a inerrância da Bíblia não era boa.

Lewis é hesitante sobre a soberania de Deus na conversão. Você lê um trecho e ele parece um Calvinista; lê outro e ele não parece. Mas Lewis tem muito para dar.

Beneficiei-me do católico Romano G.K. Chesterton e seu livro perspicaz: Ortodoxia.

Tenho me beneficiado indescritivelmente de Jonathan Edwards, e ele era um Congregacionalista pós-milenista e que batizava infantes.

(...)

Então, a resposta é um fácil “sim”. Nunca li um autor fora da Bíblia com o qual eu concordasse em tudo.

E existem autores que são mais úteis ou menos úteis, dependendo do tipo de erros, o quão insistentes eles são com esses erros, e o quanto estes contaminam os seus escritos.

John Piper

Traduzido por Saulo Rodrigo do Amaral

Artigo original extraído do site Desiring God.

Sabemos que somos eleitos quando...

Sabemos que somos eleitos quando não apenas falamos das coisas de Deus por hábito, como papagaios, mas sentimos a influência dessas coisas em nosso coração, mortificando nossos desejos, desapegando-nos do mundo e voltando-nos para as coisas celestiais.


Matthew Henry

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O pior sermão de Spurgeon

Certa vez o Sr. Spurgeon pregou o que, em seu julgamento, foi um de seus mais pobres sermões. Ele gaguejou e se atrapalhou. Quando acabou, sentiu que o sermão tinha sido um completo fracasso. Ele estava bastante humilhado, e quando chegou em casa ajoelhou-se e disse: “Senhor Deus, Tu podes fazer alguma coisa com o nada. Abençoe aquele pobre sermão”.

E durante toda a semana ele proferiu aquela oração. Levantava-se à noite e orava sobre isso. Ele decidiu que no próximo domingo iria se redimir pregando um grande sermão. Como era de se esperar, no domingo seguinte o sermão sucedeu maravilhosamente. Ao término deste, as pessoas se amontoaram ao redor dele e o encheram de elogios. Spurgeon foi para casa satisfeito consigo mesmo, e naquela noite dormiu como um bebê. Mas ele disse a si mesmo: “Vou observar os resultados daqueles dois sermões”. Quais foram eles?

Daquele que pareceu um fracasso ele conseguiu descobrir quarenta e uma conversões. E daquele magnífico sermão ele foi incapaz de descobrir uma única alma salva. O Espírito de Deus usou o primeiro e não usou o outro. Não podemos fazer nada sem o Espírito que nos assiste em nossas fraquezas.

- Christian Digest

Traduzido por Saulo Rodrigo do Amaral

Artigo em inglês extraído do blog Eternal Perspectives

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Reflexões sobre o Salmo 1:1-2

Compartilhei este estudo com alguns irmãos no ano passado, em um centro de recuperação para viciados em drogas mantido por um dos membros da nossa igreja.

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vs 1. “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”.

O Salmo começa falando sobre o bem-aventurado, que significa “feliz” no sentido mais rico do termo. Devemos buscar essa genuína felicidade, que só pode ser encontrada em Deus. Nosso problema hoje não é o excesso da busca pelo prazer, de felicidade, mas o oposto. Nos perdemos em coisas terrenas, em “prazeres” transitórios, e negligenciamos a única fonte que pode nos fazer felizes no sentido mais completo da palavra.

Certa vez C.S. Lewis disse:
Se considerarmos as promessas pouco modestas de galardão e a espantosa natureza das recompensas prometidas nos evangelhos, diríamos que nosso Senhor considera nossos desejos não demasiadamente grandes, mas demasiadamente pequenos. Somos criaturas divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições, desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere continuar fazendo bolinhos de areia numa favela, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia. Contentamo-nos com muito pouco.
Deus quer que seus filhos sejam felizes nEle, e essa felicidade começa na nossa conversão, onde ansiamos por Cristo, nossa fonte de alegria.

Agora, quais são as características desse homem feliz, bem-aventurado?

O salmista primeiramente descreve esse homem em termos negativos, mostrando o que ele não faz.

Ele não anda no conselho dos ímpios. Aqui estamos tratando da esfera do pensamento pois todos os pecados começam na mente. Satanás sempre nos tentará a partir da mente, pois é nela que a batalha é travada. Assim foi com Eva, que ouviu o conselho da serpente. O conselho dos ímpios pode ser direto ou indireto. Geralmente ele é indireto, por meio de filmes, propagandas na televisãoou em revistas; outras vezes ele é mais direto, por meio de um colega de trabalho ou de aula. Aqui, neste nível – “conselho dos ímpios”, a perversidade não se exteriorizou ainda, mas é o primeiro passo em direção ao abismo.

Esse homem bem-aventurado também não se detém no caminho dos pecadores. Isto é, ele não se torna partidário dos seus caminhos, não vive da mesma maneira que os ímpios. Se você der espaço para o conselho dos ímpios, logo estará se detendo no caminho dos pecadores, fazendo o que eles fazem, pois o seu comportamento será moldado pelos princípios do mundo.

O homem bem-aventurado também não se assenta na roda dos escarnecedores. Isso significa que ele não se associa com os ímpios. Se você der espaço para o conselho dos ímpios, logo estará andando como eles e, finalmente, estará assentado com eles, escarnecendo e rindo daquele homem que procura viver seus caminhos de acordo com a Palavra. Aqui a pessoa começa a cometer pecados sem restrição, pois perdeu o temor de Deus e crê que ficará impune de seus atos.

Nessa primeira parte do Salmo 1, o que o salmista quer dizer é que premissas falsas – pontos de partidas falsos – gerarão conclusões falsas e atos errados. O conselho dos ímpios gerará, obviamente, atos ímpios. Podemos concluir desse versículo que o conhecimento errado gera práticas erradas, mas o conhecimento correto proporciona uma prática correta. Por exemplo, se você aceita a idéia ímpia de que vencer na vida é ter um bom emprego, dinheiro e um certo status, você vai começar a buscar essas coisas. E, no fim, você não apenas buscará o que esse mundo diz ser certo, mas rirá (mesmo que não o faça abertamente) daquele cristão que crê que ter uma vida de vitória é viver em obediência a Deus, buscando conhecer Sua Palavra para poder espalhar o evangelho às ovelhas perdidas.

É por esse motivo que Paulo nos exorta, em Romanos 12:2, a não nos conformarmos com este século (com o sistema deste mundo caído), não corrermos atrás do que os ímpios correm. Antes, devemos nos transformar. Mas como? Pela renovação da nossa mente. E a que isso leva? A experimentarmos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Resumindo: o conhecimento correto vem antes da prática.

O salmista não para nos primeiros versos, mostrando o que o justo não faz, mas agora começa a descrever o que ele faz.

vs. 2. “Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”.

Spurgeon diz:
Talvez alguns de vocês alegam um tipo de pureza negativa, pois não andam nos caminhos dos pecadores; mas deixe-me lhe perguntar – o seu deleite está na lei de Deus? Você estuda a Palavra de Deus? Você faz disso o varão da tua mão direita – seu melhor companheiro e constante direção?
Precisamos olhar para alguns termos deste segundo versículo para compreendê-lo melhor.

O escritor inspirado fala em lei/Torá, que, basicamente, que dizer diretriz divina. Torá seriam os livros escritos por Moisés, também conhecidos como Pentateuco. Entretanto, “quando Davi fala de lei, não se deve deduzir como se as demais partes das Escrituras fossem excluídas, mas, antes, visto que toda a Escritura outra coisa não é senão a exposição da lei, ela é como a cabeça sob a qual se compreende todo o corpo. O profeta, pois, ao enaltecer a lei, inclui todo o restante dos escritos inspirados” (Calvino).

Logo após, ele fala em meditar na lei, pensar sobre ela, ponderar seu significado, estudá-la diligentemente. É a contemplação mental da lei divina. Kidner explica que “a mente foi o primeiro baluarte a ser defendido, no versículo 1, e é tratada como a chave para todo homem. O Salmo contenta-se em desenvolver esse único tema, implicando que seja o que for que mude o pensamento de um homem, muda sua vida também”. Ver Josué 1:8 e Deut. 6:6-7.

Essa meditação na lei de Deus ocorre de dia e de noite. Aqui vemos a importância da memorização da palavra (Salmo 119:11), pois, de outra forma, como poderemos meditar nela durante o dia inteiro? O que é ter comunhão constante com Deus? É quando Ele fala com você através da Palavra dele (seja na leitura diária ou na memorização e repetição), e quando você, em resposta, O adora, O admira pelas coisas que Ele diz, prestando culto a Ele.

Mas nada disso é penoso. Antes é um prazer. Deve ser um prazer se achegar à Palavra, estudá-la com diligência, com a mente disposta, alegrando-se nas suas instruções e não vendo nada mais precioso do que isso (Pv 3.13-15).

Quando Deus nos converte, Ele cria em nós um gosto diferente, um gosto pelas coisas espirituais, que vê Cristo e Sua Palavra como um tesouro precioso, sem igual.

Como diz Piper,
a conversão é o que acontece no coração quando Cristo se torna para nós uma arca do tesouro de alegria santa. A fé salvadora é a convicção do coração de que Cristo é totalmente confiável e supremamente desejável. O que há de novo em um convertido ao cristianismo é o novo gosto espiritual pela glória de Cristo [e, consequentemente, pela Sua Palavra].
Reflexão

A maioria das pessoas (incluindo nós) enfrenta lutas e dificuldades quando vai estudar a Palavra ou memorizá-la porque não acha prazer nela. Existem outras coisas que desejam mais: filmes, esportes, trabalho, etc.

Das duas, uma: ou não são convertidas e precisam se arrepender para a salvação, para que Deus as conceda fé e gere nelas um gosto pelas coisas espirituais, a fim de que se acheguem verdadeiramente a Cristo; ou elas têm falhado no processo de santificação, deixando a carne falar mais alto.

Todos nós, cristãos, lutamos contra isso, pois, apesar de sermos novas criaturas, por causa do pecado somos inclinados às coisas da carne. A solução é arrependimento, oração e leitura da Palavra.

Resumindo o que o Salmo diz, o que distingue o cristão do ímpio? O último presta atenção ao conselho do mundo, enquanto o cristão se deleita e pensa na Palavra. “A Bíblia diz que nossos pensamentos nos definem, e ela é o ponto de partida a partir do qual a totalidade das nossas vidas é derivada. Portanto, que aqueles que professam o nome de Cristo cessem de se prostituir com a sabedoria deste mundo” (Cheung), e mostrem a contradição que existe entre os ensinamentos bíblicos e os sistemas mundanos.

Estudemos diligentemente a Palavra, para podermos discernir o conselho deste mundo e rejeitá-lo, pois “as más companhias corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33).

Saulo Rodrigo do Amaral

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Uma mãe exemplar

Visto que o pai de Spurgeon estava sempre muito ocupado, a tarefa de criar a família caía em grande parte sobre a mãe. Ela era uma mulher excepcionalmente devota e graciosa, e seu filho James declarou: "Ela foi o ponto de partida de toda a grandeza e bondade que qualquer de nós, pela graça de Deus, acaso tem". Charles a rememora com profunda afeição e gratidão, e fala da leitura das Escrituras que ela fazia para as suas crianças e do seu empenho em que elas se preocupassem com suas almas. "Não me é possível dizer quanto devo às sérias palavras de minha boa mãe...", ele escreveu. "Lembro-me de uma ocasião em que ela orou assim: "Agora, Senhor, se meus filhos forem adiante em seus pecados, não será por ignorância que eles perecerão, e minha alma terá que dar pronto testemunho contra eles no dia do juízo, se eles não se apegarem a Cristo". Pensar em minha mãe dando pronto testemunho contra mim feriu minha consciência. ...Como posso esquecer-me de quando ela dobrava seus joelhos e, com seus braços em torno do meu pescoço, orava: "Oh, que meu filho viva em Tua presença!" Ele também conta que, numa ocasião em que seu pai, quando ia a um culto numa igreja, começou a acusar-se de negligenciar sua família, e então deu meia volta e foi para casa. Não encontrando ninguém no térreo, subiu ao segundo andar, e ali ouviu o som de uma oração. "Ele viu", diz Charles, "que era minha mãe clamando fervorosamente pela salvação de todos os seus filhos, e orando especialmente por Charles, seu voluntarioso primogênito. Meu pai achou que podia ir com segurança cuidar do serviço do seu Senhor, enquanto a sua querida esposa cuidava tão bem dos interesses espirituais dos seus meninos e das suas meninas em casa".

A.A. Dallimore, em Spurgeon: Uma nova biografia

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Culto ao caos

Em época de carnaval é muito comum participarmos de encontros da igreja ou nos retirarmos para um local mais afastado da bagunça, como uma casa de praia. No entanto, ontem resolvemos dar uma volta na avenida Beira-mar, aqui em Florianópolis. A impressão que dava era que havíamos saído de um bunker, depois de muitos anos, e encontrado um mundo diferente. Eram pessoas desmaiadas no chão e em bancos, homens vestidos de mulher, jovens fumando maconha, gritos por todos os lados, casais brigando em público... Demos meia volta e voltamos para casa.

No carnaval, dizem, tudo é permitido: adultérios, uso de drogas e outras baixarias que, em dias comuns, pelo menos são feitas com mais discrição. Dias anteriores, estava lendo um livro de Rushdoony, onde ele fala sobre o culto ao caos do mundo antigo. No momento em que vi as cenas de depravação, lembrei do texto, que, na minha opinião, encaixa-se perfeitamente com o que é “comemorado” nesta época do ano.

Diz Rushdoony:

[...] Estamos retrocedendo aos cultos ao caos que marcaram o mundo antigo.

[...] Um desses cultos ao caos que nos é familiar a partir do mundo greco-romano era as Saturnais. A moralidade era muito rigorosa naqueles dias, mas uma vez por ano, por um período de dias - às vezes uma semana: em algumas culturas, dez dezenas - toda a lei era subvertida. Um condenado era trazido do cárcere e entronizado como rei, a ponto de possuir a rainha. As leis contra a bestialidade, o incesto e toda espécie de perversão eram subvertidas. Só uma lei ainda vigorava, a de que os padeiros tinham de trabalhar o suficiente todos os dias para produzirem comida para a população.

Isso decorria da crença greco-romana de que toda a criação surgira do caos e que, portanto, o poder, a energia e a graça estavam presentes no caos. Na liberação anual do caos, esse poder era drenado e invocado, para que uma onda de processão jorrada dos mananciais do ser corresse através da sociedade e lhe concedesse vitalidade para um outro ano.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sadomasoquistas

Parece que consideramos a justificação como se fosse puramente uma doutrina eclesiástica, e ainda dizemos daqueles que procuram se desculpar: "Ele está tentando se justificar". A justificação é indispensável aos homens. Se eles não a obtiverem de Deus por meio de Jesus Cristo, vão tentar estabelecê-la por si mesmos, pagando altas somas de dinheiro a psiquiatras ou psicanalistas para ajudá-los a fazer isso.

A mesma verdade aplica-se à expiação. Se negarmos a expiação proporcionada por Jesus Cristo, nos voltaremos para o sadismo (pondo nossos pecados sobre outrem e castigando-o) ou para o masoquismo (castigando a nós mesmos). Todos os homens que estão do lado de fora da expiação de Cristo serão sadomasoquistas; pois buscarão a expiação alternando entre o sadismo e o masoquismo.

Rousas John Rushdoony, em O "ateísmo" da igreja primitiva.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Um Templo ou Um Teatro?

Os homens parecem nos dizer: “Não há qualquer utilidade em seguirmos o velho método, arrebatando um aqui e outro ali da grande multidão. Queremos um método mais eficaz. Esperar até que as pessoas sejam nascidas de novo e se tornem seguidores de Cristo é um processo demorado. Vamos abolir a separação que existe entre os regenerados e os não-regenerados. Venham à igreja, todos vocês, convertidos ou não-convertidos. Vocês têm bons desejos e boas resoluções: isto é suficiente; não se preocupem com mais nada. É verdade que vocês não crêem no evangelho, mas nós também não cremos nele. Se vocês crêem em alguma coisa, venham. Se vocês não crêem em nada, não se preocupem; a ‘dúvida sincera’ de vocês é muito melhor do que a fé”.Talvez o leitor diga: “Mas ninguém fala desta maneira”. É provável que eles não usem esta linguagem, porem este é o verdadeiro significado do cristianismo de nossos dias. Esta é a tendência de nossa época. Posso justificar a afirmação abrangente que acabei de fazer, utilizando a atitude de certos pastores que estão traindo astuciosamente nosso sagrado evangelho sob o pretexto de adaptá-lo a esta época progressista.O novo método consiste em incorporar o mundo à igreja e, deste modo, incluir grandes áreas em seus limites.


Por meio de apresentações dramatizadas, os pastores fazem com que as casas de oração se assemelhem a teatros; transformam o culto em shows musicais e os sermões, em arengas políticas ou ensaios filosóficos. Na verdade, eles transformam o templo em teatro e os servos de Deus, em atores cujo objetivo é entreter os homens. Não é verdade que o Dia do Senhor está se tornando, cada vez mais, um dia de recreação e de ociosidade; e a Casa do Senhor, um templo pagão cheio de ídolos ou um clube social onde existe mais entusiasmo por divertimento do que o zelo de Deus?Ai de mim! Os limites estão destruídos, e as paredes, arrasadas; e para muitas pessoas não existe igreja nenhuma, exceto aquela que é uma parte do mundo; e nenhum Deus, exceto aquela força desconhecida por meio da qual operam as forças da natureza. Não me demorarei mais falando a respeito desta proposta tão deplorável.

C.H. Spurgeon.
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Retirado do Blog da Fiel

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele

Em uma varanda em Asheville, Califórnia do Norte, eu estava lendo, na segunda metade de julho, o Livro de Segundo Crônicas, do AT. Como em todos os anos, quando eu leio essa parte das Escrituras, eu sou atingido na cara pelas repetidas histórias trágicas de homens pecadores debaixo do Soberano Controle de Deus.

Por exemplo, Roboão rejeitou a sabedoria dos anciãos e disse ao povo: “Meu pai vos castigou com açoites, mas eu vos castigarei com escorpiões”. Então, o inspirado escritor diz: “O rei, pois, não deu ouvidos ao povo; porque esta mudança vinha de Deus, para que o Senhor confirmasse a sua palavra” (2 Cronicas 10.14-15).

Quando o rei Acabe foi atiçado pelos falsos profetas para guerrear contra os Sírios, e Micaías, o verdadeiro profeta do Senhor, diz: “Agora, pois, eis que o Senhor pôs um espírito mentiroso na boca destes teus profetas; o Senhor é quem falou o mal a respeito de ti.” ( 2 Cronicas 18.22)

Quando Jeoás, rei de Israel, deu sábio conselho para Amazias, rei de Judá, de não ir para a batalha contra seu próprio povo. Mas Amazias não quis escutar, e o escritor inspirado diz: “Amazias, porém, não lhe deu ouvidos; pois isto vinha de Deus, para entregá-los na mão dos seus inimigos, porque buscaram os deuses de Edom” (2 Cronicas 25.20)

Por que Deus considera que seja bom que nós saibamos disso? Por que Deus nos diz repetidamente na Bíblia isso, que em algum insondável caminho, Ele governa os atos pecaminosos do homem sem Ele próprio nunca pecar ou fazer algo mal ou profano? Esse é o primeiro impulso que deu origem a esta série. Deus quer que nós saibamos disso, e há motivos para isso.

Para ler o texto completo, clique aqui.

Para ler o texto A Desobediência fatal de Adão e a Obediência Triunfante de Cristo, também da série Pecados Espetaculares e o Propósito Global deles na Glória de Cristo, clique aqui ou aqui.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Arrependam-se e Venham a Cristo!

Louvado seja Deus, porque virá um tempo em que o conheceremos conforme somos conhecidos, e Ele será tudo em todos. Senhor Jesus, completa o número dos Teus eleitos! Senhor Jesus, apressa a vinda do Teu reino!

E agora, onde estão os zombadores destes últimos dias, os quais consideram loucura a vida dos cristãos, e sem honra o fim deles? Infelizes! Vocês não sabem o que fazem! Se tivessem os olhos abertos e sentidos para discernir as coisas espirituais, vocês não profeririam todo tipo de maldades contra os filhos de Deus, mas os estimariam como as pessoas excelentes da terra, e invejariam a felicidade deles. Suas almas teriam fome e sede dessa felicidade; vocês também se tornariam fanáticos por amor a Cristo. Vocês se jactam da sua sabedoria; assim faziam os filósofos em Corinto.
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Todavia a sua sabedoria é estultícia aos olhos de Deus. Para o que lhes servirá a sua sabedoria, se não os tornar sábios para a salvação? Podem, com toda a sua sabedoria, propor um esquema mais consistente sobre o qual edificar suas esperanças da salvação, do que aquele que agora lhes foi proposto? Podem, com toda a força da razão natural, achar um meio melhor de aceitação com Deus, do que mediante a justiça do Senhor Jesus Cristo? É certo pensarem que suas próprias obras poderão dalguma maneira merecê-la ou obtê-la? Caso contrário, por que não querem crer nEle? Por que não se submetem à Sua justiça? Vocês podem negar que são todos criaturas caídas? Vocês não percebem que estão cheios de distúrbios, e que esses distúrbios os tornam infelizes? Não percebem que não podem transformar seus próprios corações? Já não fizeram resoluções muitas e muitas vezes, e suas corrupções não continuaram a ter domínio sobre vocês? Acaso não são escravos das suas concupiscências, e o diabo não os leva presos segundo a vontade dele? Por que razão não querem vir a Cristo para receberem a santificação?
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Vocês não desejam ter uma morte como a dos justos, a fim de que tenham um estado futuro igual ao deles? Estou convicto de que não podem agüentar a idéia de serem aniquilados, e muito menos de ficarem eternamente desgraçados. Apesar daquilo que fingem, vocês deverão confessar, se falarem a verdade, que suas consciências os acusam nos momentos mais graves, ainda que não queiram, e até mesmo constrangem vocês a reconhecer que o inferno não é nenhuma ficção. E por que, então, não querem vir para Cristo? Somente Ele pode obter para vocês a redenção eterna. Corram para Ele, pobres pecadores iludidos! Falta-lhes sabedoria; peçam-na a Cristo. Quem sabe, Ele a dará a vocês? Ele pode concedê-la, pois Ele é a sabedoria do Pai — é aquela sabedoria que foi desde a eternidade. Vocês não possuem justiça; recorram a Cristo, portanto. Ele é o fim da lei para a justiça de todo aquele que crê. São ímpios; fujam para o Senhor Jesus. Ele está cheio de graça e de verdade, e da Sua plenitude poderão receber todos quantos nEle crêem. Parece que vocês têm medo de morrer; que esse fato os impulsione a Cristo, Ele tem as chaves da morte e do inferno; nEle há redenção abundante. Por isso, que o raciocinador enganado não se jacte do seu pretenso raciocínio. Seja o que for que pensem, é a coisa mais desarrazoàda no mundo deixar de crer em Jesus Cristo, a quem Deus enviou.
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Por que amigos, por que vocês hão de morrer? Por que não querem vir para Ele, a fim de terem vida? Ah, todos vocês que têm sede, venham às águas da vida e bebam gratuitamente; venham, comprem sem dinheiro e sem preço. Se aqueles privilégios abençoados que nosso texto menciona pudessem ser comprados com dinheiro, vocês poderiam dizer: somos pobres, e não podemos comprar; ou se fossem outorgados somente a pecadores de tal categoria ou posição social, vocês poderiam dizer: como poderão pecadores, tais como nós, esperar que sejam tão altamente favorecidos? Entretanto, Deus dá esses privilégios gratuitamente aos piores pecadores. Foram dados a nós, diz o apóstolo — a mim, um perseguidor, a vocês, coríntios, que eram impuros, beberrões, cobiçosos, idolatras. Por isso, cada miserável pecador pode perguntar: por que não a mim, então? Cristo teria uma só bênção para dar? E que dizer se Ele já abençoou a milhares de pessoas, ao desviá-las das suas iniqüidades? Todavia, Ele continua o mesmo. Ele vive para sempre a fim de interceder, e, portanto, abençoará a vocês, mesmo a vocês também. Embora, de modo semelhante a Esaú, vocês tenham sido profanos, e até agora tenham desprezado a primogenitura proveniente do seu Pai celestial, mesmo hoje, se crerem, Cristo Se tornará da parte de Deus para vocês "sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção".
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Cristo, Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção. George Whitefield. Editora PES
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