sábado, 26 de janeiro de 2008

Por que pecaste?

“Um rei tinha um lindo pomar com maravilhosas árvores frutíferas. Para que ninguém pudesse furtar as belas frutas, colocou dois guardas, um coxo e um cego, tornando-os responsáveis por qualquer roubo. Um belo dia, o coxo disse ao cego: Que linda fruta temos nós na nossa frente; por que não devemos deliciar-nos com ela? Respondeu o cego: E por que não? Traga-me uma. Impossível, replicou o coxo; você não vê que, como coxo, não posso subir na árvore? E eu – suspira o cego – ainda menos posso fazer algo, pois não vejo nada. Ambos os guardas começaram a pensar na melhor maneira de concretizar o plano de ação. E encontraram uma solução. O coxo montou em cima do cego, alcançaram as árvores que tinham em mira, arrancaram quanto lhes deu vontade, encheram ainda os bolsos e cestos, voltando depois cada um para o seu lugar, como se nada de extraordinário tivesse acontecido. Dias depois o rei apareceu inesperadamente e reparou o acontecido. O que fizeram com a fruta desta e daquela árvore? – indagou furioso. Majestade – começa o cego a desculpar-se assustadíssimo – serei eu, que não vejo nada, o culpado? Poderei eu – o completamente aleijado – ter feito isto? Suplicou o coxo. Eu não posso me mexer do lugar! Que fez o rei? Montou o coxo em cima do cego e exclamou: Eis a maneira como vocês dois praticaram o roubo.”

Depois da morte, quando o homem se apresenta perante o tribunal Divino, perguntarão à Neshamá (alma): Por que pecaste? E ela responderá: Criador do Universo, não fui eu que pequei, mas sim o meu corpo (Guf) e a prova é que mal me livrei dele, abandonei a terra, voando agora nestas esferas limpas e puras, como um passarinho inocente. Então o júri celestial dirigirá a pergunta ao corpo: E tu, por que pecaste? Eu? – responderá o corpo. – Acaso tenho eu forças para pecar? Ela, a alma, é a instigadora das minhas transgressões; pois vede, ilustres juízes, mal a alma me abandonou, estou completamente paralisado, um cadáver morto, como uma pedra. Que fará então Deus? Colocará a alma dentro do corpo e ambos serão julgados. (MD)

Torá, A Lei de Moisés, págs 294-295.

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