A vida cristã não se reduz a mera profissão de lábios

Portanto, por mais eloquente e
fluentemente falam acerca do evangelho, são acusados de falsamente, e até com
agravo, arrogar-se o conhecimento de Cristo. Ora, esta não é uma doutrina de língua, mas de vida; não é apreendida
apenas pelo intelecto e pela memória, como as restantes disciplinas, mas,
afinal, é recebida então quando possui toda a alma e acha assento e guarida no
afeto íntimo do coração. Logo, ou deixem de jactar-se afrontosamente contra
Deus, daquilo que não são, ou se mostrem discípulos não indignos de Cristo, seu
Mestre.
Temos dado o primeiro lugar à doutrina, na qual se contém nossa religião, uma vez que nossa salvação tem nela o ponto de partida. Mas, é necessário que ela nos seja penetrada no coração e nos seja traduzida no modo de viver, e nos transforme a tal condição que não nos seja infrutífera. Se com razão os filósofos se inflamam contra aqueles que, em professando uma arte que deva ser-lhes a mestra da vida, a convertem em loquacidade sofística, e os eliminam ignominiosamente de sua clã, com quanto mais razão teremos de detestar esses sofistas fúteis que se contentam em tagarelar o evangelho com os lábios. Evangelho cuja eficácia deveria penetrar nos mais profundos afetos do coração, arraigar-se na alma e afetar o homem por inteiro, cem vezes mais do que as frias exortações dos filósofos.
João Calvino. Institutas da Religião Cristã.
130. Primeira edição: “E aqui é o
lugar de trazer às falas aqueles que, nada tendo de Cristo senão o nome e a marca,
querem, no entanto, ser chamados cristãos.”
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