terça-feira, 31 de março de 2009

A Soberania de Deus Remove a Vanglória

Charles Haddon Spurgeon Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Rom 9.15).

Nessas palavras, o Senhor reivindica, da forma mais clara possível, o direito de outorgar ou reter sua misericórdia, de conformidade com sua própria vontade. Assim como um monarca está investido da prerrogativa de conceder vida ou morte, assim também o Juiz de toda a terra tem o direito de poupar ou condenar o culpado, conforme Lhe parecer melhor.

Os homens, por causa de seus pecados, perderam todo o direito diante de Deus e, portanto, merecem a perdição eterna. E, se todos eles buscarem seus direitos na presença dEle, não encontrarão qualquer fundamento para suas reivindicações. Se o Senhor age para salvar alguém, Ele o faz de modo que os objetivos de sua justiça não sejam distorcidos. No entanto, se Ele acha melhor deixar os condenados sofrerem a justa sentença, ninguém pode chamá-Lo a juízo. Tolos e imprudentes são todos os discursos que se referem aos direitos dos homens serem colocados na mesma condição diante de Deus. Ignorantes, se não forem algo pior, são as contenções contra a graça discriminadora de Deus; tais contenções expressam a rebeldia da natureza humana orgulhosa contra o trono e a autoridade de Jeová.

Quando Deus nos mostra nossa ruína completa, nosso infeliz merecimento e a justiça do veredicto divino contra o pecado, nunca mais contestamos a verdade de que o Senhor não tinha qualquer obrigação de salvar-nos; não murmuramos diante do fato de que Ele resolveu salvar outros, como se estivesse nos causando dano, mas sentimos que, se Ele desejou volver-se para nós, isso foi um ato espontâneo de bondade imerecida da parte dEle, pelo que bendiremos para sempre o seu nome.

Como poderão aqueles que são objeto da divina eleição adorar de forma suficiente a graça de Deus? Eles não têm motivo para se gloriarem, pois a soberania divina exclui com eficácia qualquer motivo. Somente o Senhor deve ser glorificado; a própria noção do mérito humano será lançada na vergonha eterna. Nas Escrituras, não existe uma doutrina que seja mais humilhante ao homem do que a da eleição; uma doutrina que mais promova a gratidão e, conseqüentemente, seja mais santificadora. Os crentes não devem temê-la, e sim regozijarem-se nela, em adoração.

Charles Haddon Spurgeon
Fonte: Revista Fé Para Hoje, Editora Fiel.

quarta-feira, 25 de março de 2009

A maldição da culpa

A culpa não deve nos deixar inertes e abalados diante de um pecado confesso e já perdoado.


Por John Piper

Em 26 anos de pastorado, o mais perto que eu havia chegado de ser demitido da Igreja Batista Bethlehem foi em meados da década de 1980, depois de escrever um artigo intitulado Missões e masturbação para nosso boletim. Eu o escrevi ao voltar de uma conferência sobre missões presidida por George Verwer, presidente da Operação Mobilização. No evento ele disse como seu coração pesava pelo imenso número de jovens que sonhavam em obedecer completamente a Jesus, mas que acabavam se perdendo na inutilidade da prosperidade americana. A sensação constante de culpa e indignidade por causa de erros sexuais dava lugar, pouco a pouco, à falta de poder espiritual e ao beco sem saída da segurança e conforto da classe média.

Em outras palavras, o que George Verwer considerava trágico – e eu também considero – é que tantos jovens abandonem a causa da missão de Cristo porque ninguém lhes ensinou como lidar com a culpa que se segue ao pecado sexual. O problema vai além de não cair; a questão é como lidar com a queda para que ela não leve toda uma vida para o desperdício da mediocridade. A grande tragédia não são práticas como a masturbação ou a fornicação, e nem a pornografia. A tragédia é que Satanás usa a culpa decorrente desses pecados para extirpar todo sonho radical que a pessoa teve ou poderia vir a ter. Em vez disso, o diabo oferece uma vida feliz, certa e segura, com prazeres superficiais, até que a pessoa morra em sua cadeira de balanço, em um chalé à beira de um lago.

Hoje de manhã mesmo, Satanás pegou seu encontro das duas da manhã – seja na televisão ou na cama – e lhe disse: “Viu? Você é um derrotado. O melhor é nem adorar a Deus. Você jamais conseguirá fazer um compromisso sério para entregar sua vida a Jesus Cristo! É melhor arrumar um bom emprego, comprar uma televisão de tela plana bem grande e assistir o máximo de filmes pornográficos que agüentar”. Portanto, é preciso tirar essa arma da mão dele. Sim, claro que quero que você tenha a coragem maravilhosa de parar de percorrer os canais de televisão. Porém, mais cedo ou mais tarde, seja nesse pecado ou em outro, você vai cair. Quero ajudá-lo a lidar com a culpa e o fracasso, para que Satanás não os use para produzir mais uma vida desperdiçada.

Cristo realizou uma obra na história, antes de existirmos, que conquistou e garantiu nosso resgate e a transformação de todos que confiarem nele. A característica distintiva e crucial da salvação cristã é que seu autor, Jesus, a realizou por completo fora de nós, sem nossa ajuda. Quando colocamos nele a fé, nada acrescentamos à suficiência do que fez ao cobrir nossos pecados e alcançar a justiça que é considerada nossa. Os versículos bíblicos que apontam isso com mais clareza estão na epístola de Paulo aos Colossenses 2.13-14: “Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões e cancelou o escrito de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz”.

É preciso pensar bem nisso para entender plenamente a mais gloriosa de todas as verdades: Deus pegou o registro de todos os seus pecados – todos os erros de natureza sexual – que deixavam você exposto à ira. Em vez de esfregar o registro em seu rosto e usá-lo como prova para mandar você para o inferno, Deus o colocou na mão de Seu filho e pregou na Cruz. E quem são aqueles cujos pecados foram punidos na cruz? Todos que desistem de tentar salvar a si mesmos e confiam apenas em Cristo. E quem assumiu essa punição? Jesus. Essa substituição foi a chave para a nossa salvação.

Alguma vez você já parou para pensar no que significa Colossenses 2.15? Logo depois de afirmar que Deus pregou na cruz o registro de nossa dívida, Paulo escreve que o Senhor, “tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz”. Ele se refere ao diabo e seus exércitos de demônios. Mas como são desarmados? Como são derrotados? Eles possuem muitas armas, mas perdem a única que pode nos condenar – a arma do pecado não perdoado. Deus pregou nossas culpas na cruz. Logo, houve punição por elas – então, seus efeitos acabaram! O problema é que muitos percebem tão pouco da beleza de Cristo na salvação que o Evangelho lhes parece apenas uma licença para pecar. Se tudo que você enxerga na cruz de Jesus é um salvo-conduto para continuar pecando, então você não possui a fé que salva. Precisa se prostrar e implorar a Deus para abrir seus olhos para ver a atraente glória de Jesus Cristo.

Culpa corajosa – A fé que salva recebe Jesus como Salvador e Senhor e faz dele o maior tesouro da vida. Essa fé lutará contra qualquer coisa que se coloque entre o indivíduo salvo e Cristo. Sua marca característica não é a perfeição, nem a ausência de pecados. Quem enxerga na cruz uma licença para continuar pecando não possui a fé que salva. A marca da fé é a luta contra o pecado. A justificação se relaciona estreitamente com a obra de Deus pregando nossos pecados na cruz. Justificação é o ato pelo qual o Senhor nos declara não apenas perdoados por causa da obra de Cristo, mas também justos mediante ela. Cristo levou nosso castigo e realiza nossa retidão. Quando o recebemos como Salvador e Senhor, todo o castigo que ele sofreu, e toda sua retidão, são computados como nossos. E essa justificação vence o pecado.

Possuímos uma arma poderosa para combater o diabo quando sabemos que o castigo por nossas transgressões foi integralmente cumprido em Cristo. Devemos nos apegar com força a essa verdade, usando-a quando o inimigo nos acusar pelas nossas faltas. O texto de Miquéias 7.8-9 apresenta o que devemos lhe dizer quando ele zombar de nossa aparente derrota: “Não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei (...) Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra ele, até que julgue a minha causa e execute o meu direito”. É uma espécie de “culpa corajosa” – o crente admite que errou e que Deus está tratando seriamente com ele. Mas, mesmo em disciplina, não se afasta da bendita verdade de que tem o Senhor ao seu lado!

Há vitória na manhã seguinte ao fracasso! Precisamos aprender a responder ao diabo ou a qualquer um que nos diga que o Senhor não poderá nos usar porque pecamos. “Ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei”, frisou o profeta. “Embora eu esteja morando nas trevas, o Senhor será a minha luz.” Sim, podemos estar nas trevas da iniqüidade; podemos sentir culpa, porque somos, realmente, culpados pelo nosso pecado. Mas isso não é toda a verdade sobre o nosso Deus. O mesmo Deus que faz nossa escuridão é a luz que nos apóia em meio às trevas. O Senhor não nos abandonará; antes, defenderá a nossa causa.

Quando aprendermos a lidar com a culpa oriunda de nossos erros com esse tipo de ousadia em quebrantamento, fundamentados na justificação pela fé e na expiação substitutiva que Cristo promoveu por nós, seremos não apenas mais resistentes ao diabo como cometeremos menos falhas contra o Senhor. E, acima de tudo, Satanás não será capaz de destruir nosso sonho de viver uma vida em obediência radical a Jesus e de serviço à sua obra.

John Piper é doutor em Estudos do Novo Testamento, professor de Estudos Bíblicos na Faculdade Bethel, em Minnesota, onde atua como pastor presidente na Igreja Batista Bethelehm. É autor de livros como: A vida é como a neblina, O legado da alegria soberana, Teologia da alegria, O sorriso escondido de Deus, além de outros.

terça-feira, 24 de março de 2009

Prostitutos Cultuais

Eu estava tentando encontrar um adjetivo para qualificar os atuais cantores e pregadores que cobram elevadas somas em dinheiro para pregar ou cantar nas igrejas e em conferências promovidas por evangélicos, e achei que “mercador da fé” não é um adjetivo apropriado, porque é simples demais para nominar tais pessoas. Pois bem. Vejo esses exploradores da boa-fé evangélica como prostitutos cultuais – que é a tradução da versão atualizada – para os que se prostituíam junto aos templos pagãos e que depois passaram a se prostituir diante do templo do Senhor em Jerusalém. Porque os prostitutos (as) cultuais mencionados na Bíblia exploravam os que se dirigiam ao templo para adoração oferecendo-lhes um pouco de orgia – orgia sexual revestida de espiritualidade, como alguns desses a que me refiro que falam línguas, profetizam, oram pelos enfermos, são místicos e super espirituais. .. Mas orgiofantes (como os sacerdotes que prestavam culto a Dionísio).

Os prostitutos e prostitutas cultuais, comuns nos templos pagãos passaram a conviver com os adoradores junto ao templo de Jerusalém, indicativo de uma deformação espiritual da nação de Israel. Não estou afirmando que é comum tais pessoas se prostituir de verdade, em orgias sexuais; estou afirmando, isto sim, que sempre que uma pessoa se afasta de Deus, comete prostituição com outros deuses – fato mencionado pelo próprio Deus em várias passagens do Antigo Testamento. Em Ezequiel 16 ele compara Israel a uma menina, que é cuidada por Deus, adornada e preparada para ser esposa, mas se prostitui com os povos vizinhos.

Deus se antecipou ao que poderia acontecer e recomendou a Moisés: “Das filhas de Israel não haverá quem se prostitua no serviço do templo, nem dos filhos de Israel haverá quem o faça... Não trarás salário de prostituição nem preço de sodomita à Casa do Senhor, teu Deus (Dt 23.17-18). O que se vê hoje no Brasil é uma orgia espiritual, uma masturbação coletiva praticada por cantores e cantoras, pregadores e pregadoras, que não conseguiram fazer sucesso no mundo e encontraram na igreja um filão de negócio; o caminho para o enriquecimento à custa da espiritualidade dos irmãos.

Imagine o Lázaro da Bíblia, que Jesus ressuscitou dos mortos gravando seu cd e saindo pelo mundo a pregar nas igrejas, usando os recursos para comprar bens e imóveis em Atenas, Roma e Jerusalém. Imagine Dorcas, relatando sua ressurreição e insinuando aos irmãos por onde pregava que precisava de dinheiro para comprar máquinas de costura a fim de ajudar os pobres com maior eficácia, lucrando com a bênção alcançada. Eles seriam excluídos do rol de membros do céu pelos apóstolos. Pois sei que esses excrementos espirituais – e não há palavra melhor para descrever tais pessoas – cobram preços exorbitantes para pregar e cantar. Eu estava numa cidade pregando o evangelho e em várias cidades daquele Estado os irmãos se mobilizavam para ouvir o ex (que deve ter fracassado no mundo) cujo preço varia de 20 a 35 mil reais por apresentação. Este cantor que explora a espiritualidade do povo deve ganhar, pelo menos, com a agenda cheia em torno de cem mil reais por semana! Sim, porque fazem sucessos os ex-, sejam ex de quaisquer espécies. Ex que tocou na famosa banda do mundo; ex- que se prostituía com drogas, mas agora se prostitui com dinheiro. Prostituem-se com a fé. Sim, porque quais prostitutos cultuais do AT usam da espiritualidade para fazer orgia com o povo com o fim de levar o povo a se alegrar, enquanto eles ficam ricos.

Uma denominação pentecostal nutriu, alimentou e criou um pregador que cobra o exorbitante preço de quinze mil reais por pregação e nunca tomou uma atitude corretiva e disciplinar quanto a seu enriquecimento e vida pessoal; ao contrário, alimenta o sucesso desse mercador de dons. Balaão se sentiria envergonhado!

Assim, quando viajo pelo Brasil sinto no ar o odor fétido que eles deixam por onde passam; o odor da prostituição espiritual, o cheiro nauseabundo que costumam exalar os espiritualmente mortos. Que se prostituem espiritualmente e que levem pastores, líderes e povo à prostituição com eles é inegável, e não é de se duvidar de que se prostituam literalmente em seus confortáveis quartos de hotel. Pregadores e cantores que fazem exigências incomuns; que não aceitam fazer uma refeição na casa de irmãos; apenas em restaurantes que servem a La Carte. Que não se contentam com os bons hotéis e se não houver os melhores, recusam-se participar de eventos a menos que suas exigências sejam atendidas.

Os culpados são os líderes que atraídos pela ganância financeira esperam obter lucros com os gananciosos. Certamente porque muitos pastores, apóstolos e líderes se prostituíram espiritualmente, empolgados com as riquezas deste mundo, sonhando com mansões no litoral brasileiro e nas famosas cidades dos Estados Unidos.

Que posso dizer? Afirmar que alguns desses pastores que apóiam tais cantores e pregadores, juntamente com estes sejam descendentes de Balaão – que se prostituiu e usou de seus dons para ensinar Balaque a armar ciladas para os filhos de Israel – seria ofender o profeta do Antigo Testamento, que por seu pecado foi morto por Josué. Quem sabe possuem o DNA de Judas, ou são da mesma linhagem espiritual que vendem o nosso Senhor em troca das benesses de Mamom. Pedro e Judas descreveram tais cantores, pregadores e pastores com adjetivos pouco recomendáveis, afirmando que estes “andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores...


Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam junto convosco; tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos; abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça... Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas”
Por mistificações o apóstolo está se referindo aos que usam dos dons espirituais para se sobrepor aos demais; eles têm dons, são místicos e falam como se uma nuvem de transcendência divina repousasse sobre eles.

Faz-se necessária uma limpeza na igreja, a Casa de Deus, como fizeram Asa e Josafá. Asa tirou de cena sua própria mãe e “removeu os prostitutos cultuais” que usavam o templo como local de prostituição. Josafá ainda precisou intensificar a reforma, porque, de tempos em tempos os aproveitadores da boa vontade do povo; os exploradores da espiritualidade das pessoas, tais como eram os filhos de Eli aparecem na igreja de Deus (1 Rs 15.12; 22.47).

Uma igreja rameira serve de alcova para os exploradores da espiritualidade do povo. E Deus haverá de limpar sua igreja.

João A. de Souza filho (Mar/2009)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Teologia: pressuposto para a santificação

O que segue abaixo é uma correspondência eletrônica trocada entre mim e um amigo próximo.

A questão começou quando ele leu a minha frase no concurso do blog Teologia e Vida, onde eu escrevi: “Teologia, não experiência, é o pressuposto para uma vida santificada; teocentrismo, não humanismo, é o que deve pautar a caminhada cristã, pois, afinal, é a mente de Deus (Sua Palavra) que deve subjugar a nossa, não o oposto".

Ao ler a frase, ele ponderou:

"Doutrina" ou "teologia" parecem palavras realmente muito distantes de "santidade", ou "comunhão com Deus", quase como se fossem opostos. Será que você sabe de algum texto que possa me esclarecer melhor isto?

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Tentarei, de forma resumida, esclarecer a questão.

Primeiro, vamos definir os termos.

Teologia: é simplesmente qualquer estudo que responda à pergunta "O que a Bíblia como um todo nos ensina hoje?" acerca de qualquer tópico (Grudem). Dentro dessa definição - "o que a Bíblia nos ensina hoje"- já fica pressuposta a aplicação dos estudos, pois os escritores bíblicos sempre aplicam seus ensinos à vida.

Doutrina: é o que a Bíblia como um todo nos ensina acerca de algum tópico específico. Digamos que os dois termos sejam quase equivalentes.

Agora, veja só: todos têm uma teologia. Se eu te perguntar, por exemplo, quem é Jesus, você vai tentar resumir o que a Bíblia diz sobre ele, não é? A diferença, então, não é estudar ou não estudar teologia, mas, sim, ter uma teologia organizada ou uma teologia desorganizada, uma teologia biblica ou não-bíblica.

Na frase do blog eu disse que a teologia é pressuposto para a santidade. Digamos que ela seja o início da santificação.

Vamos ver alguns versículos que mostram, de forma clara, que o conhecimento doutrinário correto é o princípio para uma vida feliz e santificada.

Pv 3:13 -15 diz que "feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento, porque melhor é o lucro que ela dá do que o da prata, e melhor sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que as pérolas, e tudo o que podes desejar, não é comparável a ela".

Romanos 12:2 também diz para nos "transformarmos pela renovação da nossa mente", ou seja, pelo conhecimento da Escritura, "para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". Você vê? Primeiro o conhecimento correto, que deve nos levar a uma prática correta.

Colossenses 3:9: "... que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade [doutrinas bíblicas], em toda sabedoria e entendimento espiritual [veja mais abaixo o que o Piper fala sobre 'coisas espirituais']; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus". Viu? Conhecimento antes, prática depois.

Assim, a Palavra do Senhor é para conhecimento. Entretanto, se esse conhecimento não gera vida e mudança, algo está errado, pois João 17:17 diz que a função do conhecimento da Verdade (Palavra) é a de santificação. "Santifica-os na Verdade", a Palavra diz. Mas o que é a Verdade? "A tua Palavra é a Verdade", ela responde. Donde podemos deduzir que a Palavra nos santifica.

A Bíblia fala em doutrina? Sim, e de forma bem incisiva. Vamos ver alguns versículos:

At 2:42: E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.

1Tm 1.3: Como te roguei, quando parti para a macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina...

Tt 1.9: Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes.

2Jo 9: Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis.

Agora consegues ver como a Palavra é clara? Em última instância, sem a doutrina a nossa discussão nem faria sentido, pois, afinal, como sei o que é santidade ou o que é comunhão com Deus?

Assim, concluo que todos aqueles que não dão ênfase à sã doutrina e que não se importam em ter uma teologia biblicamente sólida vão contra as Escrituras e ficam totalmente suscetíveis a todo o tipo de erro. Quantas vezes eu já ouvi gente dizer que o importante não é conhecer muito a Bíblia, mas, sim, evangelizar? Mas, ora, quem autorizou tal pessoa a dissociar uma coisa da outra? Cristo não nos diz para irmos a todas as nações ensinando todas as coisas que Ele nos tem ordenado? “Dizer 'Esqueça a doutrina, vamos evangelizar' é tão ridículo quanto uma equipe de futebol que diz 'Esqueça a bola, vamos continuar o jogo'.” (Peter Lewis)

Para meditação, deixo um pequeno trecho do livro Em Busca de Deus do Pr. John Piper, em que ele mostra a estreita relação entre conhecer bem a Palavra e ser cheio do Espírito Santo.

"A Bíblia nos ensina que sejamos cheios do Espírito Santo: 'Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito' (Ef. 5.18). Como vem o Espírito? Em Gálatas 3.3, Paulo pergunta: 'Recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?'. A resposta, é claro, é: 'Pela pregação da fé'. Pregação do quê? Da Palavra de Deus!

O Espírito inspirou a Palavra, e por isso vai aonde a Palavra vai. Quanto mais da Palavra de Deus você conhece e ama, mais do Espírito de Deus você experimentará. Em vez de beber vinho, devemos beber o Espírito. Como? Deixando que ele controle a nossa mente: 'Os que se inclinam para o Espírito, [cogitam] das coisas do Espírito' (Rm 8.5) Quais são as coisas do Espírito? Quando Paulo disse em 1Coríntios 2.14: 'O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus', ele estava se referindo a seus próprios ensinos inspirados pelo Espírito (2.13).

Por isso, antes de tudo, os ensinos da Bíblia são as 'coisas do Espírito' . Bebemos o Espírito ao voltarmos nossa mente para as coisas do Espírito, especificamente a Palavra de Deus. E o fruto do Espírito é alegria (Gl 5.22).”


Espero ter ajudado.

Saulo R. do Amaral

quarta-feira, 18 de março de 2009

Meditação na Palavra

A coisa mais importante que tenho a fazer é ler a Palavra de Deus e meditar nela. Assim meu coração pode ser confortado, encorajado, alertado, reprovado e instruído.

Anteriormente, assim que levantava, eu começava a orar tão logo quanto possível. Mas, freqüentemente, eu gastava entre quinze minutos e uma hora, sobre os joelhos, lutando para orar enquanto minha mente vagava. Agora raramente tenho esse problema. Como meu coração está nutrido com a verdade da Palavra, sou levado à verdadeira comunhão com Deus. Eu falo com meu Pai e meu Amigo (embora eu não seja digno) a respeito das coisas que Ele me traz em Sua preciosa presença.

Sempre me surpreende eu não ter visto a importância de meditar nas Escritura mais cedo em minha vida cristã. Assim como o homem exterior não está apto para o trabalho por qualquer extensão de tempo a menos que coma, assim também o homem interior. Qual é o alimento para o homem interior? Não é a oração, mas a Palavra de Deus – não a simples leitura da Palavra de Deus, de forma que ela apenas passe por nossas mentes, assim como a água corre por um encanamento. Não, nós devemos considerar o que lemos, examinar cuidadosamente, e aplicar aos nossos corações.

Quando oramos falamos com Deus. Este exercício da alma pode ser melhor executado após o homem interior ter sido alimentado pela meditação na Palavra de Deus. Através da Sua palavra, nosso Pai fala conosco, nos encoraja nos conforta, nos instrui, nos humilha e nos reprova. Podemos meditar de maneira frutífera, com a benção de Deus, embora estejamos espiritualmente enfraquecidos, quanto mais fracos estivermos, de mais meditação precisamos para fortalecer nosso homem interior. A meditação na Palavra de Deus tem me dado a ajuda e força para passar em paz por profundas provações. Como é diferente quando a alma está renovada em comunhão com Deus logo cedo pela manhã! Sem preparação espiritual, o serviço, as provações, e as tentações do dia podem se tornar grandes demais para que os possamos enfrentar.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Uma Defesa do Calvinismo

Charles Haddon SpurgeonÉ uma grande coisa já começar a vida Cristã crendo em boa e sólida doutrina. Algumas pessoas têm recebido vinte diferentes "evangelhos" neste mesmo número de anos; e quantos mais irão aceitar antes que sua jornada termine é difícil de dizer. Dou graças a Deus por Ele logo cedo ter me ensinado o evangelho, e tenho estado tão perfeitamente satisfeito com ele, que não quero conhecer nenhum outro.

Porque, se eu cresse no que alguns pregam sobre uma salvação temporária, e sem importância, que somente dura por um tempo, eu raramente seria grato por ela, se é que seria; mas quando sei que aqueles que Deus salva, Ele os salva com uma salvação eterna, quando sei que Ele lhes dá uma justiça eterna, quando eu sei que Ele os assenta em uma fundação eterna de amor eterno, e que Ele os trará ao Seu reino eterno, oh, então me admiro, e me surpreendo pelo fato de uma bênção tal como esta tenha, em algum momento, sido dada a mim!

Suponho que haja algumas pessoas cujas mentes naturalmente se inclinam em direção à doutrina do livre-arbítrio. Eu posso somente dizer que a minha se inclina naturalmente em direção à doutrina da graça soberana. Algumas vezes, quando vejo algumas das piores personalidades na rua, eu sinto como se meu coração devesse jorrar em lágrimas de gratidão, porque se Deus me tivesse deixado só e não me tivesse tocado por Sua graça, que grande pecador eu teria sido! Eu teria ido aos extremos do pecado, mergulhado nas maiores profundezas do mal, também não teria reprimido qualquer vício ou loucura se Deus não me tivesse restringido. Eu sinto que eu teria sido o próprio rei dos pecadores, se Deus me tivesse deixado só.

Eu não consigo entender a razão pela qual sou salvo, exceto sobre a base de que Deus queria que isto fosse assim. Eu não posso, se olhar sinceramente, descobrir qualquer tipo de razão em mim mesmo pela qual eu deva ser um participante da graça Divina. Se não estou neste momento sem Cristo, é somente porque Cristo Jesus tem Sua vontade para comigo, e que esta vontade é que eu deveria estar com Ele onde Ele estiver, e que deveria partilhar da Sua glória. Não posso por a coroa em nenhum outro lugar exceto sobre a cabeça Daquele cuja poderosa graça tem me salvado de seguir abaixo para o abismo. Foi Ele que transformou meu coração, e me colocou de joelhos diante de Si.

Posso bem me lembrar da maneira pela qual eu aprendi as doutrinas da graça em um único instante. Nascido, como todos nós somos por natureza, um arminiano, ainda cria nas velhas coisas que tinha ouvido continuamente do púlpito, e não via a graça de Deus. Quando estava vindo a Cristo, pensei estar fazendo aquilo tudo por mim mesmo, e ainda que buscasse o Senhor sinceramente, não tinha idéia de que o Senhor estava me buscando. Não penso que o novo convertido esteja, a princípio, consciente disto. Eu posso relembrar o dia e a hora exatos em que pela primeira vez recebi aquelas verdades em minha própria alma, quando elas foram, como diz John Bunyan, gravadas em meu coração como com um ferro em brasa; e eu posso recompor como me senti quando cresci repentinamente de um bebê para um homem que havia feito progressos no conhecimento das Escrituras, por ter encontrado, de uma vez por todas, a chave para a verdade de Deus.

Em uma noite de um dia de semana, quando estava sentado na casa de Deus, não estava pensando muito sobre o sermão do pregador, porque não cria nele. Um pensamento me tocou: "Como você veio a ser um Cristão?" Eu vi o Senhor. "Mas como você veio a buscar o Senhor?" A verdade lampejou por minha mente em um momento, eu não poderia tê-lo buscado a menos que tivesse havido alguma influência prévia em minha mente para me fazer buscá-Lo. Eu orei, pensei eu, mas quando perguntei a mim mesmo, como eu vim a orar? Fui induzido a orar pela leitura das Escrituras. Como eu vim a ler as Escrituras? Eu as havia lido, mas o que me levou a assim proceder? Então em um instante, eu vi que Deus estava na base disto tudo, e que Ele foi o Autor da minha fé, e assim toda a doutrina da graça se tornou acessível a mim, e desta doutrina eu não me afastei até hoje, e desejo fazer desta, a minha confissão perpétua: "Eu atribuo minha conversão inteiramente a Deus".

Certa vez compareci a um culto aonde o texto veio a ser: "[Ele] escolherá para nós a nossa herança" (1) e o bom homem que ocupou o púlpito era mais do que apenas um pouco arminiano. Por esta razão, quando começou, ele disse: "Esta passagem se refere inteiramente à nossa herança temporal, não tem nada a ver com nosso destino eterno, porque", disse ele, "nós não queremos que Cristo faça por nós a escolha do Céu ou do inferno. Isto é tão claro e direto, que cada homem que tenha um grão de senso comum irá escolher o Céu, e nenhuma pessoa será tão desajuizada que escolha o inferno. Não temos qualquer necessidade de alguma inteligência superior, ou de qualquer grande Ser, para escolher Céu ou inferno por nós. Isto é deixado para o nosso próprio livre-arbítrio, e temos bastante sabedoria dando-nos meios suficientemente corretos para julgar por nós mesmos," e, portanto, como ele muito logicamente inferiu, não há necessidade de Jesus Cristo, ou de qualquer outro, fazer a escolha por nós. Nós podemos escolher a herança por nós mesmos sem qualquer assistência. "Ah!" eu pensei, "mas, meu bom irmão, pode ser mesmo verdade que nós podemos, mas penso que precisamos querer algo mais que o senso comum antes que possamos escolher corretamente".

Primeiro, deixe-me perguntar, não devemos todos nós admitir uma soberana Providência, e a designação da mão do SENHOR, como os meios através dos quais nós viemos a este mundo? Aqueles homens que pensam que, depois de tudo, nós somos deixados ao nosso próprio livre-arbítrio para escolher este ou aquele para direcionar os nossos passos, deve admitir que nossa entrada neste mundo não aconteceu por nossa própria vontade, mas que Deus teve, naquela hora, que escolher por nós. Que circunstâncias foram aquelas, sob de nosso controle, que nos direcionaram a eleger certas pessoas como sendo nossos pais? Tivemos nós alguma coisa a ver com isto? Não foi o próprio Deus que determinou nossos pais, nosso local de nascimento, e amigos?

John Newton costumava contar uma parábola sobre uma boa mulher que, de modo a provar a doutrina da eleição, dizia: "Ah! meu caro, o Senhor deve ter me amado antes de eu nascer, ou caso contrário Ele não teria visto nada em mim para amar depois". Estou certo que é verdade no meu caso; Eu creio na doutrina da eleição, porque estou bem certo que, se Deus não me tivesse escolhido, eu nunca O teria escolhido; e tenho certeza que Ele me escolheu antes de eu nascer, ou caso contrário Ele nunca teria me escolhido depois; e Ele deve ter me eleito por razões desconhecidas por mim, porque eu nunca pude encontrar qualquer razão em mim mesmo pela qual Ele devesse me olhar com especial amor.

Se seria admirável ver um rio brotar da terra já crescido, tanto mais seria olhar pasmado para uma vasta fonte da qual todos os rios da terra saíssem borbulhando de uma só vez; um milhão deles nascendo em um só nascimento? Que visão haveria de ser! Quem pode concebê-la. E ainda assim o amor de Deus é aquela fonte, formando cada um dos rios de misericórdia, os quais têm sempre satisfeito nosso povo com todos os rios de graça durante o tempo, e de glória depois de subirem. Minh'alma, permaneça naquele manancial sagrado, e adore e exalte para todo o sempre a Deus, nosso Pai, que tem nos amado! Bem no início, quando este grande universo estava na mente de Deus, como florestas não nascidas na semente do carvalho; muito antes que os ecos acordassem os ermos; antes que as montanhas fossem geradas; e muito antes que a luz rompesse pelo céu, Deus amou estas criaturas escolhidas. Antes que houvesse qualquer ser criado, quando o éter ainda não havia sido agitado pelas asas do anjos, quando o próprio espaço ainda não tinha existência, quando não havia nada exceto Deus somente, mesmo então, naquela solidão de Deidade, e naquela penetrante quietude e profundidade, Seu coração se moveu com amor por seus escolhidos. Seus nomes estavam escritos em Seu coração, e então eram eles queridos de Sua alma. Jesus amou Seu povo antes da fundação do mundo, mesmo da eternidade! E quando Ele me chamou por Sua graça, me disse: "Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí" (2).

Se qualquer um me perguntasse o que eu entendo por um Calvinista, eu responderia: "Ele é alguém que diz: Salvação do Senhor". Eu não consigo encontrar nas Escrituras nenhuma outra doutrina além desta. É a essência da Bíblia. "Só ele é a minha rocha e a minha salvação" (3). Me diga qualquer coisa contrária a esta verdade, e será uma heresia; diga-me uma heresia, e eu acharei sua essência aqui: que ela se afastou desta grande, desta fundamental, desta firme verdade, "Deus é minha rocha e minha salvação".

Qual é a heresia de Roma, além da adição de algo aos perfeitos méritos de Jesus Cristo, o acréscimo de obras da carne, para auxiliar em nossa justificação? E qual é a heresia do arminianismo além de adicionar algo à obra do Redentor? Cada heresia, se trazida à pedra de toque, irá se descobrir aqui.

Eu tenho minha própria opinião particular de que não há tal coisa como pregar Cristo e Ele crucificado, a menos que nós preguemos que nos dias de hoje isto é chamado de Calvinismo. É um apelido chamar a isto de Calvinismo; o Calvinismo é o evangelho, e nada mais. Eu não creio que podemos pregar o evangelho, se não pregarmos a justificação pela fé, sem obras; nem sem pregarmos a soberania de Deus e Sua dispensação de graça; nem sem exaltarmos a eleição, pelo inalterável, eterno, imutável, conquistador amor do SENHOR; nem penso que podemos pregar o evangelho, a menos que o baseemos sobre a especial e particular redenção de Seu povo eleito e escolhido o qual Cristo formou sobre a cruz; nem posso eu compreender um evangelho que deixa santos decaírem após serem chamados, e sujeitar os filhos de Deus a serem queimados no fogo da condenação após terem uma vez crido em Jesus. Tal evangelho eu abomino.

Não há alma viva que defenda mais firmemente as doutrinas da graça que eu, e se algum homem me pergunta se porventura me envergonho de ser chamado Calvinista, respondo que eu não quero ser chamado de nada além de Cristão; mas se você me perguntar, eu defendo a visão doutrinária que foi defendida por João Calvino, eu replico, estou no centro de sua defesa, e estou feliz por professá-la.

Mas, longe de mim, sequer imaginar que Sião não contém nada além de Cristãos Calvinistas dentro de seus muros, ou que não há ninguém salvo que não defenda nossa visão. Creio que há multidões de homens que não conseguem ver estas verdades, ou, pelo menos, não conseguem vê-las do modo em que nós as colocamos, mas que não obstante, têm recebido a Cristo como seu Salvador, e são tão queridos do coração do Deus de graça como o mais ruidoso Calvinista dentro ou fora do Céu.

Frequentemente é dito que estas doutrinas nas quais nós cremos têm uma tendência de nos levar ao pecado. Eu tenho ouvido isto ser declarado muito positivamente: que aquelas grandes doutrinas que amamos, e que encontramos nas Escrituras, são licenciosas. Não sei quem terá a audácia de fazer esta afirmação, quando considerar que os mais santos dentre os homens têm crido nelas. Pergunto ao homem que se atreve a dizer que o Calvinismo é uma religião licenciosa, o que ele pensa do caráter de Agostinho, ou de Calvino, ou de Whitefield, que em sucessivas eras foram grandes expoentes do sistema da graça; ou o que diria dos Puritanos, cujas obras estão cheias delas? Se um homem tivesse sido um Arminiano naqueles dias, teria sido considerado o mais vil herege vivente, mas agora nós somos vistos como hereges, e eles como ortodoxos.

Nós temos retornado à velha escola; nós podemos traçar nossa linhagem desde os apóstolos. É aquele veio de livre-graça, correndo através da pregação de Batistas, os quais nos têm salvado como denominação. Não é por isto que nós não podemos permanecer onde estamos hoje. Nós podemos correr uma linha dourada até o próprio Jesus Cristo, através de uma santa sucessão de vigorosos pais, todos os quais defenderam estas gloriosas verdades; e podemos perguntar a seu respeito: "Onde você encontraria homens melhores e mais consagrados no mundo?". Nenhuma doutrina é tão planejada para preservar o homem do pecado quanto a doutrina da graça de Deus. Aqueles que a têm chamado de "doutrina licenciosa" não sabem nada a seu respeito. Coisas pobres da ignorância, eles mal souberam que seu próprio material ruim foi a mais licenciosa doutrina sob o céu. Se eles conhecessem a graça de Deus em verdade, eles logo iriam ver que não houve nada que preservasse mais da queda que o conhecimento de que somos eleitos de Deus desde a fundação do mundo. Não há nada como a crença na perseverança eterna, e na imutabilidade da afeição de meu Pai, que possa me manter mais perto Dele, pela simples razão da gratidão. Nada faz um homem mais virtuoso que a crença na verdade. Uma mentira doutrinária irá logo produzir uma prática mentirosa. Um homem não pode ter uma crença errada sem em algum momento futuro ter uma vida errônea. Eu creio que uma coisa naturalmente leva à outra.

De todos os homens, os que têm a mais desinteressada piedade, a mais sublime reverência, a mais ardente devoção, são aqueles que crêem que são salvos pela graça, sem obras, através da fé, e não de si mesmos, a qual é dom de Deus (4).

Os Cristãos devem ter cautela, e ver que isto sempre é assim, a fim de que por quaisquer meios Cristo não seja novamente crucificado, e exposto ao vitupério (5).

(1) Salmo 47:4
(2) Jeremias 31:3
(3) Salmo 62:6
(4) Efésios 2:8-9
(5) Hebreus 6:6

Charles H. Spurgeon
Tradução: Walter Andrade Campelo

terça-feira, 10 de março de 2009

A Razão da Salvação

“Ele os salvou por amor do seu nome”. Não há outra razão pela qual Deus salve um homem, senão por amor do seu nome; não há nada num pecador que lhe faça merecer a salvação, ou que o recomende a fim de que receba misericórdia; deve ser o próprio coração de Deus que determine o motivo da salvação dos homens. Uma pessoa diz: “Deus me salvará porque sou muito reto”. Senhor, ele não fará tal coisa. Outro dirá: “Deus me salvará porque sou muito talentoso”. Meu senhor, não o fará. Seu talento! Você um idiota orgulhoso e arrogante! Seu talento não é nada comparado ao talento do anjo que uma vez esteve diante do trono e pecou, e que foi lançado para sempre ao abismo insondável! Se ele salvasse os homens por seu talento, teria salvado Satanás, pois tinha talentos suficientes. Quanto a sua moralidade e bondade, não são senão trapos de imundícia; e ele nunca salvará você por algo que você faça. Nenhum de nós seria salvo se Deus esperasse algo em nós. Devemos ser salvos, pura e simplesmente, por razões inerentes a ele mesmo, e que residam em seu próprio seio. Bendito seja o seu nome, ele nos salva por “amor do seu nome”.

O que isso significa? Penso que significa que o nome de Deus é a sua pessoa, seus atributos, e sua natureza. Por amor da sua natureza, por amor de seus próprios atributos, ele salvou os homens; e, talvez, podemos incluir isto também: “Meu nome está nele – isto é, em Cristo; ele nos salvou por amor de Cristo, que é o nome de Deus”. E o que significa? Penso que ele os salvou, primeiro, para manifestar sua natureza. Deus é todo amor, e ele quer manifestá-lo; ele mostrou esse amor quando fez o sol, a lua, e as estrelas, e espalhou as flores pela terra verde e sorridente. Ele mostrou seu amor quando fez que o ar fosse um bálsamo para o corpo, e a luz do sol fosse alegria para o olho. Ele nos esquenta no inverno com abrigos e com o combustível que tem armazenado nas entranhas da Terra, mas ele queria se revelar ainda mais. “Como posso mostrar-lhes que eu os amo com todo meu infinito coração? Eu lhes darei meu Filho para morrer e, então, salvar os piores deles, e assim manifestarei a minha natureza”. E Deus fez isso: manifestou seu poder, sua justiça, seu amor, sua fidelidade e sua verdade; ele manifestou seu ser inteiro na grandiosa plataforma da salvação. Foi, por assim dizer, a plataforma na qual Deus subiu para se mostrar ao homem – a plataforma da salvação – aqui ele manifestou a si mesmo, ao salvar as almas dos homens.

Ele fez isso, também, para vindicar o seu nome. Alguns dizem que Deus é cruel; eles o chamam perversamente de tirano. “Ah!”, diz Deus, “mas eu salvarei o pior dos pecadores, e vindicarei o meu nome; eu vou apagar o estigma; vou remover a mancha; eles não serão capazes de dizer isso, a menos que sejam mentirosos imundos, pois seria abundantemente misericordioso. Vou tirar essa mancha, e eles verão que meu grandioso nome é um nome de amor”. E adicionou: “Eu farei isto por amor do meu nome, isto é, para fazer que este povo ame o meu nome. Eu sei que se apanho os melhores dos homens, e os salvo, eles amarão o meu nome; mas se tomar os piores dos homens, ó, como eles me amarão! Se vou e tomo alguns da escória da Terra, e faço deles meus filhos, ó, como eles me amarão! Então eles serão fiéis ao meu nome, e o considerarão mais doce que a música; será mais precioso que o perfume das mercadorias orientais; o valorizarão como o ouro, sim, como muito ouro fino. O homem que me ama mais é o homem que teve mais pecados perdoados, ele deve muito e, portanto, amará muito”. Esta é a razão pela qual Deus normalmente escolhe os piores homens para fazê-los seus.

Disse um velho escritor: “Todas as esculturas do céu foram feitas com madeira bruta; o templo de Deus, o Rei do céu, é de cedro; porém, os cedros eram árvores brutas antes que ele as cortasse”. Ele escolheu os piores, para manifestar sua destreza e sua capacidade, para fazer para si um nome, como está escrito “O que será para o Senhor por nome, e por sinal eterno, que nunca se apagará”. Agora queridos leitores, qualquer que seja a sua condição, aqui há algo que lhes ofereço e que é mui digno de consideração, a saber: que se somos salvos, somos salvos por amor de Deus, por amor de seu nome, e não por nós mesmos.

Ora, isso coloca a todos os homens num mesmo nível no que concerne à salvação. Suponham que para entrar neste jardim (Royal Surrey Gardens), houvesse se estabelecido a regra que cada pessoa deveria mencionar meu nome como chave de admissão. A Lei é: nenhum homem será admitido por seu status ou título, mas somente pelo uso de certo nome. Ali vem um nobre, menciona o nome e entra. Ali vem um mendigo, coberto de farrapos. Faz uso do nome e entra, pois não há distinção. Assim minha senhora, se você chegar com toda a sua moralidade, você deverá fazer uso do nome. E se você vem, pobre habitante de um porão ou sótão, e faz uso do nome, as portas serão amplamente abertas, pois há salvação para todo aquele que faz menção do nome de Cristo, e para ninguém mais. Isso abate o orgulho dos moralistas, humilha a autoexaltação do que presume a justiça própria, e coloca a todos nós como pecadores culpados, em igualdade de condições diante de Deus, para receber misericórdia de suas mãos, “por amor de seu nome”, e unicamente por essa razão.

C.H. Spurgeon. Parte do sermão pregado na manhã de domingo 1° de fevereiro de 1857.
Extraído do livro: Porque os homens são salvos – Publicações Monergismo

domingo, 8 de março de 2009

Qual a diferença entre os calvinistas e os demais crentes?

Em que atitude de espírito e de coração a religião é exibida plenamente? Não seria numa atitude de oração? Quando nos prostramos perante o Senhor, não meramente com nossos corpos, mas com nossas mentes e corações, assumimos uma postura que acima de qualquer outra merece ser chamada religiosa. E essa postura religiosa por eminência é obviamente apenas a atitude de total dependência e humilde confiança. Aquele que se achega a Deus em oração, não vem com um espírito de auto afirmação, mas num espírito de total dependência e confiança. Ninguém se dirige a Deus em oração dizendo: “Ó Deus, tu sabes que sou o arquiteto da minha sorte e o determinador do meu destino. Tu podes de fato fazer algo para me ajudar a asseguar os meus propósitos, após determinar quais são esses. Mas meu coração pertence a mim, e tu não podes se intrometer; minha vontade é só minha e o Senhor não pode incliná-la. Quando desejar a sua ajuda, o invocarei. Enquanto isso, o Senhor deve esperar as minhas vontades”. As pessoas podem até raciocinar dessa forma; mas essa não é a forma que eles oram. De fato, uma vez dois homens foram ao templo para orar. E um deles ficou de pé e orou para ele mesmo (pode até ser que essa expressão “para ele mesmo” tenha um significado mais profundo…), “Deus, eu te agradeço por não ser como os outros homens.” Enquanto o outro falando bem baixinho disse, “Deus tenha misericórdia de mim pois sou um pecador.” Mesmo o primeiro reconheceu certa dependência de Deus, pois agradeceu a Deus por suas virtudes. Mas não temos dúvida sobre quem teve a virtude religiosa mais puramente exibida. Cristo nos mostrou isso com clareza e ênfase.

Todo homem assume uma atitude religiosa, quando ora. Mas muitos deles parecem encaixotar, por assim dizer, essa atitude exclusivamente em momentos de oração, e a descartam de suas vidas assim que dizem Amém, pois ao levantarem seus joelhos, assumem uma atitude totalmente diferente, se não no coração, pelo menos em suas mentes. Eles oram como se fossem unicamente dependentes da misericórdia de Deus; eles raciocinam, talvez até mesmo vivam, como se Deus, pelo menos em algumas das suas atividades, fosse dependente deles. O calvinista é o homem que está determinado a preservar a atitude que ele toma na oração em todo o seu pensamento, sentimento e ação. Isto é, ele é um homem que está determinado que a religião em sua pureza deve ser exibida em seus pensamentos, sentimentos e atitudes. Essa é a base do seu modo especial de pensar, razão pela qual é chamado um calvinista; e também da sua forma especial de agir no mundo, razão pela qual ele se tornou a maior força regeneradora no mundo. Outros homens são calvinistas de joelhos; mas calvinista é aquele homem que está determinado em seu intelecto, e coração, e permanecerá sob os seus joelhos continuamente, e somente a partir dessa atitude pensará, sentirá e agirá. Calvinismo é, portanto, aquele tipo de pensamento que exibe plenamente a verdadeira atitude religiosa de total dependência a Deus e humilde confiança em sua misericórdia somente para salvação.

Extraído do texto de B.B. Warfield, disponível no site Monergismo.

terça-feira, 3 de março de 2009

Os decretos de Deus

A Escritura muitas vezes fala dos decretos de Deus, que é a Sua soberania, as determinações eternas de tudo o que é, do que foi, e do que será na criação, na história, e na salvação. Mas, de fato, estão predeterminadas todas as coisas?

A Escritura ensina de modo muito claro que Deus preterminou tudo. Ele decretou:


* A terra e os seus fundamentos (Pv 8:29).
* O mar e os seus limites (Jó 38:8-11).
* A chuva (Jó 28:26).
* O sol, a lua e as estrelas (Sl 148:3-6).
* O tempo e os períodos da história (Is 46:9-10).
* As fronteiras e as diferenças étnicas das nações (At 17:26).
* O nosso nascimento e carácter (Sl 139 15-16).
* O curso da vida (Jr 10:23), cada pensamento e palavra (Pv 16:1).
* O poder e a autoridade dos homens, bem como a sua incredulidade (Êx 9:16).
* A impiedade dos homens (1 Pe 2:8), incluindo a maldade daqueles que crucificaram Cristo (At 4:24-28).
* A vinda do reino anticristão (Ap 17:17).
* A condenação dos ímpios (Mt 26:24-25; Rm 9:22).
* O julgamento dos anjos caídos (Jd 6).
* O fim de todas as coisas (Is 46:10).
* O nascimento (Sl 2:7-8), a vida (Lc 22:22) e a morte (Ap 13:8) de Cristo.
* Cada parte da salvação, incluindo o chamado (Rm 8:28), a fé daqueles que creêm (At 13:48), a justificação (Rm 8:30), a adoção (Ef 1:5), a santidade e as boas obras (Ef 1:3-4; 2:10), e a herança da glória (Ef 1:11).
* Todas as coisas no céu, na terra e no inferno (Sl 135:6-12).

É possível que seja difícil para um crente aceitar este ensino. Entretanto, isto significa para outros que para o crente não são os ímpios, nem os demônios, mas apenas Deus está no controle de tudo o que existe.

Isto significa que nada acontece por acaso - especialmente que nada ocorre com o povo de Deus que não esteja determinado pelo Seu Pai celestial. Assim, todas as coisas, cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, pois o Seu Pai tudo decretou.

O desconhecimento da soberana determinação de Deus sobre todas as coisas é a razão porque “homens desmaiarão de terror, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas” (Lc 21:26). Sem um soberano Deus decretando, eles são sem esperança (Ef 2:12).

Confessemos diante do mundo que “o nosso Deus está nos céus; tudo faz segundo o Sua boa vontade” (Sl 115:3).

Ronald Hanko em Doctrine according to Godliness
Tradução por Ewerton B. Tokashiki
Fonte: Traductione Reformata
Via: Cinco Solas

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