sábado, 1 de novembro de 2008

O tríplice uso da Lei

Todo cristão luta com a pergunta: De que forma a lei do Velho Testamento se relaciona com a minha vida? É a lei do Velho Testamento irrelevante para os cristãos ou há algum sentido em que nós ainda estamos submetidos a porções dela? Como a heresia do antinomianismo (anti-lei, ser contrário à lei) tem se tornado cada vez mais impregnada em nossa cultura, a necessidade de responder estas perguntas torna-se progressivamente mais urgente.

A Reforma fundamentou-se na graça e não na lei. Entretanto a lei de Deus não foi repudiada pelos Reformadores. João Calvino, por exemplo, escreveu o que ficou conhecido como o “Tríplice Uso da Lei" para mostrar a importância da lei na vida cristã. ¹

O primeiro propósito da lei é ser um espelho.

Por um lado, a lei de Deus reflete e espelha a perfeita retidão de Deus. A lei nos diz muito sobre quem Deus é. Talvez ainda mais importante, a lei traz à luz a imoralidade humana. Agostinho escreveu: "As lei ordena que nós, após tentarmos fazer o que é ordenado, e assim sentindo nossa fraqueza sob a lei, possamos aprender a implorar pela ajuda da graça." ² A lei realça nossa fraqueza de forma que nós possamos buscar a força que há em Cristo. Aqui a lei atua como um severo professor que nos conduz a Cristo.

Um segundo propósito da lei é a restrição do mal.

A lei, por si só, não pode transformar corações humanos. Pode, entretanto, servir para proteger os íntegros dos injustos. Calvino diz que este propósito ocorre "por meio de suas amedrontadoras denúncias e o conseqüente medo do castigo, para restringir aqueles que, a menos que forçados, não têm nenhuma consideração pela retidão e pela justiça." ³ A lei permite uma medida limitada de justiça nesta terra, até que o julgamento final seja concretizado.

O terceiro propósito da lei é revelar o que agrada a Deus.

Como filhos renascidos de Deus, a lei nos ilumina quanto ao que é agradável ao nosso Pai a quem buscamos servir. O cristão deleita-se na lei como o próprio Deus deleita-se nela. Disse Jesus: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (João 14:15). Esta é a função mais elevada da lei: servir como um instrumento para que o povo de Deus tribute-Lhe honra e glória.

Quando estudamos ou meditamos na lei de Deus, estamos freqüentando a escola da retidão. Aprendemos o que agrada e o que ofende a Deus. A lei moral que Deus revela nas Escrituras sempre é válida para nós. Nossa redenção é da maldição da lei de Deus, não do nosso dever de obedecê-la. Nós somos justificados, não por causa de nossa obediência à lei, mas para que possamos nos tornar obedientes à lei de Deus. Amar a Cristo é guardar os Seus mandamentos. Amar Deus é obedecer a Sua a lei.

Resumo:
  • A igreja dos nossos dias foi invadida pelo antinomianismo que debilita, rejeita ou distorce a lei de Deus.
  • A lei de Deus é um espelho da santidade de Deus e da nossa iniqüidade. Ela serve para nos revelar a nossa necessidade de um salvador.
  • A lei de Deus é uma restrição contra o pecado.
  • A lei de Deus revela o que é agradável e o que é ofensivo a Deus.
  • O cristão deve amar a lei de Deus e obedecer à lei moral de Deus.
Passagens bíblicas para reflexão:

Salmo 19:7-11
Salmo 119:9-16
Romanos 7:7-25
Romanos 8:3-4
1 Coríntios 7:19
Gálatas 3:24
_______________________________
¹. Calvino, Institutas, Livro II, 1:304-310.
². Calvino, Institutas, Livro. II, 1:306.
³. Calvino, Institutas, Livro II, 1:307.

Autor: R. C. Sproul
Tradução: Juliano Heyse
Fonte: Bom Caminho

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