domingo, 17 de agosto de 2008

Toda a Bíblia é o Padrão para Hoje

“Deus espera que nos submetamos a toda sua palavra, e não que escolhamos apenas aquilo que esteja de acordo com nossas opiniões pré-concebidas.”

Tudo da vida é ético, e tudo da Bíblia está permeado com preocupações éticas. Diferente da organização de uma enciclopédia, nossa Bíblia não foi escrita de uma forma que devote seções separadas exclusivamente para diversos assuntos de interesse. Assim, a Bíblia não contém um livro ou capítulo separado que trate completamente do assunto da ética ou conduta moral. Sem dúvida, muitos capítulos da Bíblia (como Êxodo 20 ou Romanos 13) e até mesmo alguns livros da Bíblia (como Provérbios ou Tiago) têm muito a dizer sobre questões éticas e contém muitas diretrizes específicas para a vida do crente. Todavia, não se encontrará uma divisão da Bíblia intitulada com algo como "A Lista Completa de Deveres e Obrigações na Vida Cristã”. Pelo contrário, encontramos uma preocupação pela ética percorrendo toda a Palavra de Deus, de capa a capa - da criação à consumação.

De fato, isso não é surpreendente. Toda a Bíblia fala de Deus, e lemos que o Deus vivo e verdadeiro é santo, justo, bom e perfeito. Esses são atributos de um ser ético e têm implicações morais para nós. A Bíblia inteira fala das obras de Deus, e lemos que todas as suas obras são realizadas em sabedoria e justiça - novamente, qualidades éticas. O mundo que Deus criou, lemos, revela os requerimentos morais de Deus clara e continuamente. A história, que Deus governa por seu decreto soberano, manifestará sua glória, sabedoria e justiça. O ápice da criação e a figura chave da história terrena, o homem, foi criado à imagem deste Deus santo e tem a lei de Deus gravada em seu coração. A vida e propósito do homem recebem direção da parte de Deus. Cada uma das ações e atitudes do homem é chamada ao serviço do Criador - motivada por amor e fé, objetivando a promoção da glória e do reino de Deus. Portanto, toda a Bíblia tem uma espécie de foco ético.

Além do mais, o próprio enredo narrativo e teológico da Bíblia é governado por preocupações éticas. Desde o princípio lemos que o homem caiu no pecado - desobedecendo ao padrão moral de Deus; como conseqüência, o homem ficou debaixo da ira e maldição de Deus - sua justa resposta à rebelião contra os seus mandamentos. Então, o pecado e a maldição são características prevalecentes do ambiente, da história e das relações do homem caído.

Para redimir o homem, restaurá-lo ao favor e corrigir sua vida rebelde em todas as áreas, Deus prometeu e providenciou seu próprio Filho como um Messias ou Salvador. Cristo viveu uma vida de perfeita obediência que o qualificou como nosso substituto, e então morreu sobre a cruz para satisfazer a justiça de Deus com respeito ao pecado. Como ressurrecto, e então elevado às alturas, Cristo governa como Senhor sobre todos, trazendo toda oposição em submissão ao seu majestoso reino. Ele enviou o Espírito caracterizado por santidade para os seus seguidores, e entre outras coisas o Espírito Santo produz a prática da justiça em suas vidas. A igreja de Cristo recebeu o mandato para proclamar as boas novas de Deus, promover seu reino por tudo o mundo, ensinar os discípulos de Cristo a observar tudo que ele ordenou, e adorar o Deus Triuno em espírito e em verdade. Quando Cristo retornar na consumação da história humana, ele virá como juiz universal, dispensando castigo e recompensa de acordo com o padrão revelado da palavra de Deus. Nesse dia todos os homens serão divididos nas categorias básicas de guardadores-do-pacto e quebradores-do-pacto; então ficará claro que tudo da vida de alguém, em todo ambiente e relação, reflete sua resposta aos padrões revelados de Deus. Aqueles que vivem em alienação de Deus, não reconhecendo sua desobediência e necessidade do Salvador, serão eternamente separados de sua presença e benção; aqueles que abraçaram o Salvador em fé e se submetem a ele como Senhor, desfrutarão de sua presença nos novos céus e terra, onde habita a justiça.

É fácil ver, então, que tudo o que a Bíblia ensina de Gênesis a Apocalipse tem uma qualidade ética e carrega implicações éticas. Não existe nenhuma palavra da parte de Deus que falhe em nos dizer de alguma forma no que devemos crer sobre ele e quais deveres ele requer de nós. Paulo coloca isso dessa forma: "Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra" (2Tm. 3:16-17). Se desconsiderarmos qualquer porção da Bíblia, falharemos - nessa extensão - em estarmos perfeitamente preparados pra toda boa obra. Se ignorarmos certos requerimentos declarados pelo Senhor na Bíblia, nossa instrução na justiça será incompleta. Paulo diz que toda Escritura é proveitosa para o viver ético; cada versículo nos dá direção quanto a como devemos viver.

A Bíblia inteira é o nosso parâmetro ético, pois cada parte dela é a palavra do Deus eterno e imutável; nada da Bíblia oferece direção falível ou equivocada para nós hoje. Nenhuma das estipulações de Deus é injusta, sendo muito permissiva ou dura demais. E Deus não tem um padrão duplo e injusto de moralidade, um padrão de justiça para alguns e outro para os demais. Então, cada uma das ordens da palavra de Deus tem o intuito de fornecer instrução moral para nós hoje, de forma que possamos demonstrar justiça, santidade e verdade em nossas vidas.

É importante observar aqui que quando Paulo disse que "toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa" para o viver santo, o Novo Testamento ainda não estava completo e reunido, e não existia como uma coletânea publicada de livros. A referência direta de Paulo foi às bem conhecidas escrituras do Antigo Testamento, e indiretamente ao Novo Testamento, que seria completado em breve. Por inspiração do Espírito Santo, Paulo ensinou aos crentes do Novo Testamento que todo escrito do Antigo Testamento era proveitoso para a instrução presente deles na justiça, caso fossem se tornar perfeitamente preparados para toda boa obra requerida deles por Deus.

Nenhuma porção do Antigo Testamento se tornou eticamente irrelevante, de acordo com Paulo. Esse é o porquê, como cristãos, deveríamos falar do nosso ponto de vista moral não meramente como "Ética do Novo Testamento", mas como "Ética Bíblica". O Novo Testamento (2Tm. 3:16-17) requer que tomemos o Antigo Testamento como eticamente normativo para nós hoje. Preste atenção! Não apenas selecione porções do Antigo Testamento, mas "toda Escritura". Falhar em honrar todo o dever do homem como revelado no Antigo Testamento é o mesmo que falhar em ser completamente preparado para o viver justo. É mensurar o dever ético de alguém por um parâmetro quebrado e incompleto.

Toda a Bíblia

Deus espera que nos submetamos a toda sua palavra, e não que escolhamos apenas aquilo que esteja de acordo com nossas opiniões pré-concebidas. O Senhor requer que obedeçamos a tudo que ele estipulou no Antigo e Novo Testamento - que vivamos "de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mt. 4:4). Nosso Senhor respondeu à tentação de Satanás com essas palavras, citando a passagem do Antigo Testamento registrada em Deuteronômio 8:3, que começa da seguinte forma: "Todos os mandamentos que hoje eu vos ordeno cuidareis de observar" (8:1).

Muitos crentes em Cristo falham em imitar sua atitude aqui, e são totalmente descuidados quanto a observar cada palavra da ordem de Deus na Bíblia. Tiago nos diz que se uma pessoa vive e guarda todo preceito ou ensino da lei de Deus e, todavia, desconsidera ou viola um único ponto, essa pessoa é de fato culpada de desobedecer toda a lei (Tiago 2:10). Portanto, devemos tomar toda a Bíblia como nosso padrão de ética, incluindo cada ponto da lei do Antigo Testamento. Nenhuma palavra que procede da boca de Deus pode ser invalidada ou tornada inoperante, assim como o Senhor declarou ao entregar sua lei: "Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás" (Dt. 12:32). A Bíblia inteira é o nosso padrão ético hoje, de capa a capa.

Mas a vinda de Jesus Cristo não mudou tudo isso? A lei do Antigo Testamento não foi cancelada ou pelo menos reduzida em seus requerimentos? Muitos cristãos professos são enganados na direção dessas perguntas, a despeito do claro requerimento de Deus que nada seja subtraído da sua lei, a despeito do ensino claro de Paulo e Tiago que toda escritura do Antigo Testamento - mesmo cada ponto da lei - tem uma autoridade ética obrigatória na vida do cristão do Novo Testamento.

Talvez o melhor lugar para verificar na Escritura, a fim de livrarmos-nos dessa inconsistência teológica por detrás dessa atitude negativa para com a lei do Antigo Testamento, são as próprias palavras de Jesus sobre esse assunto, em Mateus 5:17-19. Nada poderia ser mais claro do que Cristo negar aqui duas vezes (para enfatizar) que sua vinda ab-rogaria a lei do Antigo Testamento: "Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir". Repetindo, nada poderia ser mais claro que isso: nem mesmo o aspecto menos significante da lei do Antigo Testamento perderá sua validade até o fim do mundo: "Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a Terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido". E se houver alguma dúvida remanescente em nossas mentes quanto ao significado do ensino do Senhor aqui, ele imediatamente remove-a aplicando sua atitude para com a lei ao nosso comportamento: "Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus". A vinda de Cristo não ab-rogou nada na lei do Antigo Testamento, pois cada til da lei permanecerá até que passe esse mundo; por conseguinte, o seguidor de Cristo não deve ensinar que algum requerimento do Antigo Testamento foi invalidado por Cristo e sua obra. Como o salmista declarou: "A soma da tua palavra é a verdade, e cada uma das tuas justas ordenanças dura para sempre" (Sl. 119:160).

Assim, então, tudo da vida é ético, e a ética requer um padrão de certo e errado. Para o cristão, o parâmetro é encontrado na Bíblia - toda a Bíblia, do princípio ao fim. O crente do Novo Testamento repudia o ensino da própria lei, dos Salmos, de Tiago, de Paulo e do próprio Jesus quando os mandamentos de Deus expressos no Antigo Testamento são ignorados ou tratados como um mero padrão antiquado de justiça e retidão. "A palavra de nosso Deus subsiste eternamente" (Is. 40:8), e a lei do Antigo Testamento é parte de cada palavra que procede da boca de Deus, pela qual devemos viver (Mt. 4:4).

Greg L. BahnsenBy This Standart, pg. 21-28.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Fonte: Monergismo

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