quarta-feira, 28 de abril de 2010

A doutrina da imutabilidade divina é compatível com a doutrina da encarnação?

Cristo, sendo plenamente Deus, é imutável. No entanto, ele nem sempre possuiu sua natureza humana, coisa que ocorreu na sua encarnação, quando se fez homem. Isso não seria, de alguma forma, uma mudança? Alguns dizem que Cristo permaneceu o que era (divino), passando a ser o que não era (humano). Isso está certo? Como essas duas doutrinas se conciliam?*

Consultemos então a Fórmula de Calcedônia, a afirmação histórica mais técnica sobre a Trindade e a dupla natureza de Jesus:

“Seguindo então, aos Santos Padres, unanimemente ensinamos a confessar um solo e mesmo Filho: nosso senhor Jesus Cristo, perfeito em sua divindade e perfeito em sua humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem (composto) de alma racional e de corpo, consubstancial ao Pai pela divindade, e consubstancial a nós pela humanidade, similar em tudo a nós, exceto no pecado, gerado pelo Pai antes dos séculos segundo a divindade, e, nestes últimos tempos, por nós e por nossa salvação, engendrado na Maria virgem e mãe de Deus, segundo a humanidade: um e o mesmo Cristo senhor unigênito; no que têm que se reconhecer duas naturezas, sem confusão, imutáveis, indivisas, inseparáveis, não tendo diminuído a diferença das naturezas por causa da união, mas sim mas bem tendo sido assegurada a propriedade de cada uma das naturezas, que concorrem a formar uma só pessoa. Ele não está dividido ou separado em duas pessoas, mas sim é um único e mesmo Filho Unigênito, Deus, Verbo, e Senhor Jesus Cristo como primeiro os profetas e mais tarde o mesmo Jesus Cristo o ensinou que si e como nos transmitiu isso o símbolo dos padres”. ¹

Li também um texto do irmão Matt Slick (If God is unchanging, how can Jesus be God in flesh?²) e traduzi este parágrafo que considero pertinente:

"A Bíblia nos ensina que Jesus possui duas naturezas: ele é Deus e homem. Esta doutrina é conhecida como união hipostática. Jesus é ao mesmo tempo Deus e homem — divino e humano. Jesus, uma única pessoa, existe com duas naturezas. A natureza divina foi 'unida' à natureza humana na pessoa única de Cristo. A natureza divina não sofreu nenhuma alteração nessa 'união'. Note, por favor, que a natureza divina não foi mesclada à natureza humana para formar uma nova natureza chamada divino-humana. Essa afirmação, conhecida por monofisismo, é incorreta. As duas naturezas se 'comunicam' entre si e seus atributos individuais são consignados a essa pessoa única. Isto se chama communicatio idiomatum, expressão latina que significa 'comunicação de propriedades'. Em outras palavras, a pessoa única de Cristo 'possui' os atributos das duas naturezas".

William D. Watkins escreveu em uma resenha para o Instituto Cristão de Pesquisas americano (CRI):

"... os teólogos clássicos como Agostinho, Anselmo, Aquino e Lutero eram cuidadosos ao destacar que Deus [o Pai] não se transformou literalmente em um ser humano na Encarnação, e sim o Filho de Deus, e que por meio de sua pessoa, a natureza divina foi unida à natureza humana sem a alteração da natureza de Deus de nenhum modo e em tempo algum".

Por isso, a natureza divina não passou por nenhuma alteração, pois ela não foi transformada, e sim unida à natureza humana de Jesus.

Rogério Portella

________

Notas:

* Essa pergunta foi feita por mim, no Fórum Monergismo, e respondida pelo irmão Rogério Portella.

1.
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/documentos_da_igreja/concilio_de_calcedonia.htm
2.http://www.carm.org/christianity/christian-doctrine/if-god-unchanging-how-can-jesus-be-god-flesh
3.http://www.iclnet.org/pub/resources/text/cri/cri-jrnl/web/crj0159a.html

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