quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Quem sou eu?

Quem sou eu? Muitas vezes me dizem que eu sairia do confinamento da minha cela calma, alegre e firmemente, como um cavaleiro vindo de sua terra natal.

Quem sou eu? Muitas vezes me dizem que eu falaria com os meus carcereiros livre, clara e amigavelmente, como se me coubesse comandar.

Quem sou eu? Também me dizem que eu suportaria dias de má sorte uniforme, sorridente, orgulhosamente, como alguém habituado a vencer.

Sou realmente isso tudo o que os outros dizem?

Ou sou somente o que sei de mim, inquieto, anelante e enfermo, como um pássaro na gaiola, lutando por conseguir respirar como se mãos estivessem comprimindo a minha garganta, anelando por cores, por flores, pelas vozes das aves, sedento de palavras bondosas, de urbanidade, tremendo de ira ante os despotismos e a humilhação mesquinha, fremente na expectativa de grandes eventos, tremendo impotentemente por amigos a uma distância infinita, fatigado e vazio na oração, no pensamento, na realização, desfalecido e pronto a dizer adeus a tudo?

Quem sou eu? Este ou aquele outro? Sou uma pessoa hoje e outra amanhã? Sou ambas ao mesmo tempo? Um hipócrita perante os outros, e diante de mim mesmo um fraco desprezível e desolado? Ou ainda há dentro em mim algo como um exército batido, fugindo desordenadamente da vitória já obtida?

Dietrich Bonhoeffer, "Who am I?" Letters and Papers from Prision

1 Comentário:

Jorge Oliveira disse...

Muito bom.

Postar um comentário

  ©Orthodoxia desde 2006

TOPO