quarta-feira, 9 de abril de 2008

A absoluta importância do motivo

A prova pela qual toda conduta será finalmente julgada é o motivo. Como a água não pode subir mais alto do que o nível, assim a qualidade moral de um ato nunca pode ser mais elevada do que o motivo que inspira. Por esta razão, nenhum ato procedente de um motivo mau pode ser bom, ainda que algum bem pareça resultar dele. Toda a ação praticada por ira ou despeito, por exemplo, ver-se-á, afinal, que foi praticada a favor do inimigo e contra o reino de Deus.

Infelizmente, a atividade religiosa possui tal natureza, que muito desse tipo de atividade pode ser realizado por motivos maus, como a raiva, a inveja, a vaidade e a avareza. Toda a atividade desse tipo é essencialmente má e como tal será avaliada no julgamento.

Nesta relação de motivos como em muitas outras, os fariseus dão exemplos claros. Eles continuam sendo o mais triste fracasso religioso do mundo, não por causa do erro doutrinário, nem porque eram pessoas de vida abertamente dissoluta. Todo o problema deles estava na qualidade dos seus motivos religiosos. Oravam, mas para serem ouvidos pelos homens, e, deste modo, o seu motivo arruinava as suas orações e as tornavam inúteis e, realmente más. Contribuíram para o serviço do templo, porém, às vezes, o faziam para escapar do seu dever para com os seus pais, e isso era um mal, um pecado. Os fariseus condenavam o pecado e se levantavam contra ele, quando o viam nos outros, mas o faziam motivados por sua justiça própria e por sua dureza de coração. Isso caracterizava tudo o que faziam. Suas atividades eram cercadas por aparências de santidade; e essas mesmas atividades, se fossem realizadas por motivos puros, seriam boas e louváveis. Toda a fraqueza dos fariseus estava na qualidade de seus motivos.

Isso não é uma coisa insignificante - é o que podemos concluir do fato de que aqueles religiosos formais e ortodoxos continuaram em sua cegueira, até que finalmente crucificaram o Senhor da glória, sem qualquer noção da gravidade do seu crime.

Atos religiosos praticados por motivos vis são duplamente maus - maus em si mesmos e maus por serem praticados em nome de Deus. Isto equivale em pecar em nome dAquele Ser que é impecável, a mentir em nome dAquele que não pode mentir e a odiar em nome dAquele cuja natureza é amor.

Os crentes especialmente os mais ativos, freqüentemente devem separar um tempo para sondar a sua alma, a fim de certificarem-se dos seus motivos.

Muito solo é cantado para exibição; muitos sermões são pregados para mostrar talento; muitas igrejas são fundadas como um insulto contra outra igreja. Mesmo a atividade missionária pode tornar-se competitiva, e a conquista de almas pode degenerar, tornando-se uma espécie de marketing eclesiástico para satisfazer a carne. Não esqueçam que os fariseus eram grandes missionários e rodavam o mar e a terra para fazer um converso.

Um bom modo de evitar a armadilha da atividade religiosa vazia é comparecer diante de Deus, sempre que possível, com nossa Bíblia aberta em I Coríntios 13. Esta passagem, embora seja considerada uma das mais belas da Bíblia, é também uma das mais severas dentre as que se acham nas Escrituras Sagradas. O apóstolo toma o serviço religioso mais elevado e consigna à futilidade, se não for motivado pelo amor. Sem amor, profetas, mestres, oradores, filantropos e mártires são despedidos sem recompensas.

Resumindo, podemos dizer que, aos olhos de Deus, somos julgados não tanto pelo que fazemos e sim por nosso motivos para fazê-lo. Não "o quê" mas "por quê" será a pergunta importante que ouviremos, quando nós, crentes, comparecermos no tribunal, a fim de prestarmos contas dos atos praticados enquanto estivemos no corpo.

Autor: A. W. Tozer
Tradução: Pr. Timóteo Sanches

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