quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O argumento ateísta de Richard Dawkins

O que o Sr. pensa sobre o argumento ateísta de Richard Dawkins em seu livro “Deus, um delírio”?

Dr. William Lane Craig responde:
Nas páginas 212 e 213 do livro dele, Dawkins resume o que ele chama de “o argumento central de meu livro.”

Assim segue:

1. Um dos maiores desafios para o intelecto humano tem sido explicar como a complexa e improvável aparência de design surgiu no universo.
2. A tentação natural é atribuir a aparência de design a um design verdadeiro.
3. A tentação é uma falsidade, porque a hipótese de um projetista remete imediatamente ao problema maior de quem projetou o projetista.

4. A explicação mais engenhosa e poderosa é a evolução de Darwin através de seleção natural.
5. Nós não temos uma explicação equivalente para a física.
6. Nós não deveríamos renunciar a esperança de uma explicação melhor que surja na física, algo tão poderoso quanto o Darwinismo é para biologia.

Então, Deus não existe quase certamente.

Esse argumento soa mal, porque a conclusão ateísta que “então, Deus não existe quase certamente” parece sair de repente, do nada. O senhor não precisa ser um filósofo para perceber que essa conclusão não pode ser deduzida das seis afirmações anteriores.

Realmente, se nós levarmos essas seis afirmações como premissas de um argumento que implique na conclusão “então, Deus não existe quase certamente”, então o argumento é patentemente inválido. Nenhum regulamento lógico de inferência permitiria ao senhor tirar esta conclusão das seis premissas.

Uma interpretação mais gentil seria a que levasse estas seis afirmações não como premissas, mas como afirmações sumárias no argumento cumulativo de Dawkins para a sua conclusão de que Deus não existe. Mas, mesmo nesta construção gentil, a conclusão “Então, Deus não existe quase certamente” não decorre destes seis passos, mesmo se nós aceitarmos que cada um deles é verdadeiro e justificado.

O que se pode concluir dos seis passos do argumento de Dawkins? No máximo, tudo o que ele sugere é que nós não deveríamos deduzir a existência de Deus baseados em uma aparência de design no universo. Mas esta conclusão é bastante compatível com a existência de Deus e até mesmo com nossa justificável crença na Sua existência. Talvez nós devêssemos acreditar em Deus com base no argumento cosmológico ou no argumento ontológico ou no argumento moral. Talvez nossa convicção em Deus não esteja baseada em argumentos, mas fundamentada em experiência religiosa ou em revelação divina. Talvez Deus quer que nós acreditemos nEle simplesmente através da fé. O ponto é que, rejeitando argumentos de design para a existência de Deus, não se prova que Deus não exista, nem que a convicção em Deus é injustificada. Realmente, muitos teólogos cristãos rejeitaram argumentos para a existência de Deus sem se obrigarem, assim, ao ateísmo.

Dessarte, o argumento de Dawkins para o ateísmo é um fracasso mesmo que aceitemos, como hipótese, todos seus passos. Mas, na realidade, vários desses passos são plausivelmente falsos. Observe o passo 3, por exemplo. A reinvindicação de Dawkins aqui é que não é justificável deduzir o design como a melhor explicação da ordem complexa do universo, porque um problema novo surge: quem projetou o projetista?

Esta réplica é dividida em, pelo menos, duas partes. Primeiro, para reconhecer uma explicação como a melhor, não é necessário ter uma explicação da explicação. Este é um ponto elementar relativo à inferência para a melhor explicação, como praticado na filosofia de ciência. Se arqueólogos cavando na terra descobrissem coisas que se parecem com pontas de flecha, cabeças de machadinhas e fragmentos de cerâmica, haveria justificativas para se deduzir que esses artefatos não são o resultado de uma sedimentação e metamorfose, mas produtos de algum grupo desconhecido de pessoas, embora eles não tivessem qualquer explicação de quem essas pessoas eram ou de onde vieram. Semelhantemente, se astronautas encontrassem maquinários na parte de trás da lua, eles teriam razões para deduzir que aqueles eram produtos de agentes inteligentes, extra-terrestres, mesmo que não tivessem nenhuma idéia do que estes agentes extra-terrestres eram ou como eles chegaram lá. Para reconhecer uma explicação como a melhor não é necessário explicar a explicação. Caso contrário, isso conduziria a um infinito regresso de explicações, de forma que nada poderia ser explicado e a ciência seria destruída. Assim, neste caso, para reconhecer que o design inteligente é a melhor explicação para a aparência de design no universo, não é preciso explicar o projetista.

Secundariamente, Dawkins pensa que, no caso de um projetista divino do universo, o projetista tem de ser, da mesma maneira, complexo como a coisa a ser explicada, de forma que nenhum avanço explicativo é feito. O engano fundamental de Dawkins está embasado na sua suposição de que um projetista divino é uma entidade tão complexa quanto o universo. Como uma mente sem corpo, Deus é uma entidade notavelmente simples. Como uma entidade não-física, uma mente não é composta de partes, e suas propriedades, como autoconsciência, racionalidade e volição, são essenciais a ela. Em contraste com o universo contingente e matizado com todas as suas quantidades inexplicáveis e constantes, uma mente divina é, de modo surpreendente, simples. Certamente, tal mente pode ter idéias complexas - pode estar pensando, por exemplo, em cálculo infinitesimal, mas a mente propriamente dita é uma entidade notavelmente simples. Dawkins confundiu, evidentemente, a idéia de uma mente que pode, realmente, ser complexa, com uma mente que é uma entidade inacreditavelmente simples. Então, postular uma mente divina por detrás do universo representa um avanço em simplicidade, para todos os efeitos.

Outros passos no argumento de Dawkins também são problemáticos; mas eu penso que o suficiente foi dito para mostrar que o argumento dele nada faz para arruinar a inferência do design fundada na complexidade do universo, não servindo, em nada, como uma justificação do ateísmo.

Extraído do site Reasonable Faith.

Traduzido por Leandro Teixeira
Revisado por Saulo Rodrigo do Amaral

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