Argumento do Design (1)
Tradução: Saulo R. do Amaral
O argumento começa com a premissa maior de que onde há design tem de haver um designer. A premissa menor é a existência de design em todo o universo. A conclusão é que deve haver um designer universal.
Por que devemos acreditar na premissa maior, que todo o design implica em um designer? Porque todos admitem esse princípio na prática. Por exemplo, suponhamos que você estivesse em uma ilha deserta a achasse “S.O.S” escrito na areia da praia. Você não pensaria que o vento ou as ondas escreveram isso por mero acaso, mas sim que alguém esteve lá, alguém inteligente o suficiente para pensar e escrever aquela mensagem. Se você achasse uma cabana de pedra na ilha, com janelas, portas e uma lareira, você não pensaria que um furacão empilhou as pedras daquele jeito por mero acaso. Você imediatamente pensa em um designer quando você vê design.
Quando o primeiro foguete foi lançado de Cabo Canaveral, dois cientistas americanos estavam observando. Um era um cristão e o outro incrédulo. O cristão disse: “Não é maravilhoso ver que esse foguete vai chegar à lua por mero acaso?”. O incrédulo replicou: “O que você quer dizer por ‘mero acaso’? Nós desenvolvemos esse foguete nos mínimos detalhes”. “Oh”, disse o cristão, “você não acha que o acaso é uma boa explicação para o foguete? Então por que você acredita que é uma boa explicação para o universo? Existe muito mais design no universo do que em um foguete. Nós podemos criar um foguete, mas não podemos criar um universo. Alguém consegue?”. Mais tarde os dois estavam andando na rua e passaram na frente de uma loja de antiguidades. O ateu, admirando a pintura pendurada na janela, perguntou: “Gostaria de saber quem pintou esse quadro”. “Ninguém”, brincou o cristão; “ele está ali por mero acaso”.
É possível que o design aconteça por acaso, sem um designer? Talvez haja uma possibilidade em um trilhão de que o “S.O.S” tenha sido escrito na areia pelo vento. Mas, quem usaria uma explicação praticamente impossível (uma em um trilhão)? Alguém uma vez disse que se você colocar um milhão de macacos em um milhão de máquinas de escrever durante um milhão de anos, um deles, eventualmente, escreveria Hamlet, por acaso. Mas, quando encontramos o texto de Hamlet, não ficamos nos perguntando se ele foi escrito pelo acaso ou por macacos. Por que, então, o ateu usa essa explicação incrivelmente improvável para o universo? Certamente, pelo fato de esse ser o único jeito de alguém permanecer ateu. Nesse ponto, nós precisamos de uma explicação psicológica para explicar como alguém vem a ser um ateu, em vez de uma explicação lógica para a criação do universo. Nós temos uma explicação lógica para o universo, mas o ateu não gosta dela. Ela se chama Deus.
Há um exemplo muito forte do argumento do design e que todos nós podemos reconhecer facilmente, porque diz respeito ao design de um instrumento em particular que usamos para pensar sobre o design: nosso cérebro. O cérebro humano é a peça mais complexa de design no universo conhecido. De várias formas, ele é como um computador. Agora, imagine que exista um computador que foi programado pelo acaso. Por exemplo, imagine que você está a bordo de um avião e o sistema de informação anuncia que não existe piloto, mas que o avião está sendo guiado por um computador que foi programado por uma chuva de granizo aleatória que caiu no teclado, ou por um jogador de beisebol calçando um tênis de alpinismo, com pregos na sola, dançando em cima da placa mãe do computador.
Outro forte aspecto do argumento do design é o chamado princípio antrópico, segundo o qual o universo parece ter sido especialmente criado para que o início da vida humana fosse possível. Se a temperatura da primeira bola de fogo que surgiu do Big Bang(2) há milhões de anos atrás, quando o universo surgiu, tivesse sido um trilionésimo mais fria ou mais quente, a molécula de carbono, que é o fundamento de toda a vida orgânica, nunca teria se desenvolvido.
Existem, relativamente, poucos ateus entre neurologistas, neurocirurgiões e astrofísicos, mas muitos entre psicólogos, sociólogos e historiadores. A razão parece óbvia: os primeiros estudam o design divino, e os últimos estudam o undesign(3) humano.
Mas, a evolução não explica tudo sem que se precise de um designer? Bem pelo contrário; evolução é um belo exemplo de design, uma grande evidência para Deus(4). Há boas evidências científicas para a evolução, para o surgimento ordenado das espécies, do simples para o complexo. Mas não existem provas científicas para a seleção natural como mecanismo da evolução. A seleção natural “explica” como emergiram as mais altas formas, sem um design inteligente, pelo princípio do sobrevivente mais forte, ou do mais bem adaptado. Mas isso é pura teoria. Não existem evidências de que o abstrato, o pensamento teórico ou o amor altruísta facilitassem isso para os homens sobreviverem. Como eles evoluíram então?
Ademais, pode o design, que obviamente existe no homem e no seu cérebro, ter vindo de algo com menos ou nenhum design? Tal explicação viola o princípio da causalidade, o qual assevera que você não pode ter mais no efeito do que na causa. Se existe inteligência no efeito (homem), tem de haver inteligência na causa. Entretanto, um universo regulado por um acaso cego não possui inteligência. Logo, deve haver uma causa para a inteligência humana que transcende o universo: uma mente por detrás do universo físico. (Muitos cientistas reconhecidos têm crido em tal mente, até mesmo aqueles que não acreditam em nenhuma religião revelada.)
Quanto esse argumento prova? Nem tudo o que o Cristianismo revela como Deus, é claro – nenhum argumento pode fazer isso. Mas ele prova uma fatia considerável de Deus: alguma inteligência grande o suficiente que é responsável por todo o design no universo e na mente humana. Se isso não é Deus, o que é então? Steven Spielberg?
Texto em inglês extraído de:
http://www.peterkreeft.com/topics/design.htm
1 N. do T.: Poderia ter sido usada a palavra ‘projeto’ para a tradução de design e ‘projetista’ para designer. Entretanto, achei melhor manter as palavras em inglês, pelo simples fato de achar que expressam melhor a idéia do argumento.
2 N. do T.: O autor se refere ao modelo Big Bang. Alguns teístas sustentam que o modelo Big Bang, que nada tem a ver com a explicação naturalista desse evento, é uma prova de uma criação orquestrada por um Criador.
3 N. do T.: Algo sem design.
4 N. do T.: A maioria dos cristãos discorda nesta parte, inclusive este tradutor, justamente pelo fato de crer que a criação de Deus se deu sem a macro-evolução. E as supostas evidências a favor da evolução são na verdade dogmas. Contrariamente, a evidência de uma criação e de um Criador é claríssima.
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