sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Quatro Sinais da Igreja Primitiva

Os quatro sinais da igreja , que vemos na igreja primitiva, todas têm a ver com nossas relações.
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O primeiro que se menciona é a relação com os apóstolos. Os cristãos se dedicavam a receber e conservar os ensinamentos dos apóstolos. Também estavam relacionados entre si: perseveravam na comunhão, se amavam uns aos outros, se cuidavam mutuamente.
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Certamente, se relacionavam com Deus. O adoravam no templo e nas casas, formal e informalmente, com alegria e com reverência. Finalmente os primeiros cristãos estavam relacionados com o mundo fora da igreja, e por isso cada dia chegava mais pessoas que recebiam o evangelho de Jesus Cristo.
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Faz um tempo, escutei um grupo de jovens que havia visitado todas as igrejas da cidade mas não tinham encontrado nenhuma que realmente lhes satisfizesse. deixaram de buscar e se denominaram a si mesmos de “cristãos desligados”.
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Quando perguntei o que tinham estado procurando, o que entendiam que deveria ser a igreja, mencionaram quatro pontos. Aqueles jovens não tinham ideia de que estas qualidades estavam escritas no livro de Atos; disseram que estavam buscando uma igreja que tivesse pregação bíblica, onde a Palavra fosse exposta e que tivesse aplicação prática.
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Em segundo lugar, buscavam uma igreja que tivesse comunhão real, onde os membros se cuidassem mutuamente e se apoiassem. Em terceiro lugar, buscavam uma igreja que adorasse, na qual fosse uma realidade a presença de Deus. Em quarto lugar, estavam buscando uma igreja que tivesse um ministério para o mundo.
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O que aqueles jovens buscavam, como tantos outros, era nada menos que uma igreja viva, verdadeiramente renovada, uma igreja que mostrasse exatamente as quatro características que vimos que a igreja primitiva tinha. O Espírito Santo veio em Pentecostes e Ele não deixou a igreja. Nossa responsabilidade não é esperar que o Espírito Santo volte, mas antes reconhecer Sua soberania na igreja.
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Devemos nos humilhar ante Ele, buscar sua plenitude, sua direção e Seu poder. Quando isso ocorrer, nossa igreja se aproximará a esse maravilhoso ideal que nos apresenta o livro de Atos: o ensinamento apostólico, a comunhão uns com os outros, a adoração viva, e a evangelização continua.
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Oremos por nossas igrejas, para que se renovem e cumpram o propósito para o qual Cristo fundou Sua igreja!
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John Stott. Sinais de Uma Igreja Viva.
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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Aplicação não é Legalismo!

Existem muitos pastores hoje em dia que, por medo de serem rotulados de "legalistas", não dão à sua congregação nenhum ensinamento ético. Até onde temos nos desviado dos apóstolos! "Legalismo" é a tentativa equivocada de ganhar a nossa salvação pela obediência à lei. "Farisaísmo" é uma preocupação com as aparências e minúcias de dever religioso. Para ensinar as normas de conduta moral que adornam o evangelho não é nem o legalismo nem o farisaísmo, mas o puro cristianismo apostólico.

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Stott, Between Two Worlds, p. 158)
Fonte: Application is not Legalism

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Considerações sobre João 1:1-14 - Parte 1

1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

A palavra traduzida como Verbo é Logos. Outras traduções possíveis para essa palavra, talvez até melhores, são: Palavra, Lógica, Sabedoria ou Razão. Por si só essa identificação de Jesus como o Logos desmonta toda a pretensão de os incrédulos apontarem o Cristianismo como irracional e anti-intelectual. Precisamente o oposto é verdadeiro: a “sabedoria” do mundo é tolice, é loucura (1 Co. 1.20; Rm 1.21-22).

Alguns dizem que o Verbo mostra o Filho como Deus, enquanto Jesus e Cristo referem-se à sua encarnação e obra salvífica. Mas por que o Filho é chamado de Verbo ou Palavra? Uma pista do porquê está no versículo 18 do primeiro capítulo:
18. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.
O Filho unigênito, Jesus, revela o Pai. Palavra ou Verbo indica a autoexpressão de uma pessoa. Isto é, “Cristo é a imagem do Deus invisível” (Col. 1.15); “o Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hb 1.3). Assim, Cristo é o Verbo, pois Deus nos falou nos últimos dias por meio dele (Hb 1.1) e disse para que a Ele escutássemos (Mt 17.5).

A expressão no princípio é uma clara referência a Gn 1. O Verbo é eterno, existia antes de o tempo e o espaço existirem. A eternidade de Deus é descrita em Salmo 90.2:
“Antes que os montes nascessem... de eternidade em eternidade, tu és Deus”.
O Verbo, Jesus, nunca teve início e nunca terá fim.

A primeira parte do versículo implica um relacionamento íntimo entre Cristo e Deus Pai (O Verbo estava com Deus); a segunda parte do versículo nos mostra que, embora Cristo não seja idêntico a Deus Pai em suas funções, Ele é igual ao Pai em essência (no seu ser e em seus atributos), pois o versículo diz que o Verbo era Deus. Para entendermos melhor as distinções entre Deus Pai e Deus Filho e como o Verbo pode ao mesmo estar com Deus e ser Deus, precisamos compreender que o Deus da Bíblia é um Deus triúno, ou, como convencionou-se chamar, é uma Trindade, termo esse utilizado pela primeira vez por Tertuliano.

Em suma, a doutrina da Trindade pode ser definida da seguinte forma:
1.Deus existe eternamente como três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo;
2.Cada pessoa é plenamente Deus;
3.Existe um só Deus.
Vamos ver um exemplo das três pessoas da Trindade em ação em um versículo específico.
Mateus 3: 16-17: “E, sendo Jesus [O Filho] batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus [O Espírito Santo] descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus [a voz do Pai] dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.”
Voltando ao nosso versículo (Jo 1.1), o fato de Cristo estar com Deus [1] prova que Ele não é Deus Pai. Também o Pai é distinto do Filho e do Espírito Santo e assim por diante. Vimos claramente a distinção entre as três pessoas da Trindade no versículo acima. Outro versículo similar é Jo 14:26, onde Jesus diz que o Pai enviará o Consolador (Espírito Santo).

Quanto à divindade de Jesus, que é o foco do capítulo um de João, existem vários versículos que atestam esse ensino. Vamos ver alguns deles:
Jo 20.28:“E Tomé respondeu, e disse-lhe [a Jesus]: Senhor meu, e Deus meu!”
Hb 1:8: “Mas acerca do Filho [diz]: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre”.
Heb 1.10 (citação do salmo 102.25): “Ainda [acerca do Filho]: No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são obra das tuas mãos”.
Tito 2.13: “... aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”.
2 Pe 1.1: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”.
Quanto ao Espírito Santo, podemos ver Atos 5.3-4, onde a Escritura diz que mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus.
“Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus.”
Outras passagens referindo-se à divindade do Espírito Santo: 1.Co 2.10-11; Jo 3.5-7, em conexão com 1 Jo 3.9. Observe os termos “nascidos do Espírito” e “nascidos de Deus” (são equivalentes).

Após termos aprendido o básico do básico sobre a doutrina da Trindade, é bom sabermos quais são os erros mais comuns relacionados a essa doutrina, para os evitarmos:

O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três papéis representados por uma única pessoa (heresia chamada modalismo). Exemplo: José é pai, marido e professor. Uma só pessoa com três funções. Não é assim com Deus.

Eles não são três deuses agrupados (heresia chamada triteísmo);

Eles não são subordinados um ao outro na sua essência. Isto é, um não é inferior ao outro (heresia chamada subordinacionismo). No entanto, existe, por exemplo, uma subordinação do Filho ao Pai quanto às suas funções. Cada qual tem um papel distinto. Uma situação parecida se dá no casamento, onde o homem e a esposa são iguais, mas diferentes. Iguais em sua essência, mas com papéis diferentes. A submissão da mulher ao homem não significa que este seja superior àquela. Significa, apenas, que o homem tem uma função diferente, de autoridade no lar.

Saulo Rodrigo do Amaral

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[1] Geralmente, quando os membros da Trindade são distintos, Deus refere-se ao Pai – como no caso de João 1.1. Caso contrário, Deus refere-se à Trindade.

* As obras principais em que me baseei foram: o Comentários de João, do D.A. Carson; e o comentário de Matthew Henry.

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