sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Um simples gesto

Quando me passaram essa suposta história verdadeira (não garanto que ela realmente tenha ocorrido, mas coisas semelhantes certamente acontecem), ela me fez lembrar de duas coisas. Uma é o impacto que temos sobre as pessoas ao praticarmos boas obras. A outra, o senso de satisfação quando finalmente ouvimos a história.

Certo dia, Mark estava andando da escola para a sua casa quando percebeu que o rapaz à sua frente havia tropeçado e deixado cair todos os livros que estava carregando, junto com duas blusas, um bastão de beisebol, uma luva e um pequeno gravador. Mark ajoelhou-se e ajudou o rapaz a pegar os objetos espalhados. Visto que eles estavam indo pelo mesmo caminho, ele o ajudou a carregar parte das coisas. À medida que caminhavam, Mark descobriu que o nome do rapaz era Bill, que ele amava video games, beisebol e história, que ele estava tendo muitos problemas com as outras matérias e que ele havia recém terminado com sua namorada.

Eles chegaram à casa de Bill e Mark foi convidado para tomar um refrigerante e assistir a um pouco de televisão. A tarde passou de forma agradável, com umas risadas e alguma conversa, então Mark foi para casa. Eles continuaram a se ver perto da escola, almoçavam juntos uma vez ou outra, e então ambos se formaram no ensino fundamental. Eles terminaram por estudar no mesmo colégio de ensino secundário, onde eles tinham breves contatos ao longo dos anos. Finalmente, o tão esperado ano da formatura chegou e, três semanas antes da colação de grau, Bill perguntou a Mark se eles poderiam conversar.

Bill o lembrou daquele dia, anos atrás, quando eles se encontraram pela primeira vez. “Você alguma vez se perguntou por que eu estava carregando tantas coisas naquele dia?”, perguntou Bill. “Você vê, eu esvaziei meu armário porque não queria deixar uma bagunça para ninguém. Eu havia juntado algumas das pílulas soporíferas da minha mãe e estava prestes a cometer suicídio. Mas após passarmos um tempo juntos, conversando e rindo, percebi que se eu me matasse, teria perdido aquele tempo e tantos outros que poderiam vir. Então, você vê, Mark, naquele dia, quando você pegou aqueles livros, você fez muito mais, você salvou a minha vida.”

Você consegue imaginar como Mark se sentiu quando ouviu aquilo? Sinto-me assim quando algumas pessoas me mandam a foto de um bebê ou me dão um bebê para segurar e dizem: “Achei que você gostaria de saber que essa criança está viva por causa do que você nos disse a respeito do aborto; tínhamos marcado para fazer o aborto, mas cancelamos”.

Mas a outra coisa que me impressiona é que Mark não sabia e, se Bill não tivesse contado a ele, ele continuaria não sabendo. Existem muitas coisas como essa das quais não saberemos até a eternidade. Ouviremos essas histórias.

Sinto-me assim toda vez que escrevo um livro. Chego aos estágios finais do livro, um período desgastante em que estou muito cansado, e me pergunto: “Vale à pena?”. Após o livro ser publicado, começo a receber cartas das pessoas dizendo como a vida delas tem mudado, como elas chegaram à fé em Cristo ou se achegaram mais perto de Deus. Um homem encontrou comigo em outra cidade e disse-me: “Minha esposa estava tão deprimida que ela havia decidido se matar; ela leu um de seus livros e Deus falou com ela; ela ainda está aqui e está muito melhor”.

A história de Mark e Bill também me faz lembrar do quão importante é que contemos à outra pessoa quando Deus a tiver usado em nossas vidas. Isso por si só é uma recompensa de curto prazo, mas também nos encoraja a prosseguir e esperar pelas recompensas de longo prazo. Sou grato à cada carta amável que tenho recebido. Como a maioria das pessoas, mantenho muitas delas em um arquivo. Espero que não seja pelo fato de eu amar o louvor dos homens mais do que o louvor de Deus. Espero que seja pelo fato de que, ao ouvir a manifestação das pessoas, posso sentir a afirmação e o encorajamento de Deus para continuar trabalhando e investindo tempo e empenho, porque está sendo importante e está fazendo a diferença para a eternidade.

Alguém já mudou a sua vida por meio de algo que tenha feito a você? Você disse a ele o quanto isso significou para você?

Randy Alcorn

Traduzido por Saulo R. do Amaral

Artigo em inglês retirado do
blog Eternal Perspectives

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Verdade Absoluta

O que a palavra de Deus requer de nós, no entanto, não depende apenas de nosso relacionamento com ele como criaturas e súditos. Devemos crer e obedecer, não apenas porque ele nos diz que o façamos, mas também e primeiramente por ser uma palavra verdadeira. Seu autor é o "Deus da verdade" (Sl 31:5; Is 65:16), "cheio de amor e de fidelidade" (Êx 34:6). Tua "fidelidade alcança as nuvens" (Sl 108:4; cf. 57:10), isto é, ela é universal e ilimitada. Portanto sua "palavra é a verdade" (Jo 17:17); "as tuas justas ordenanças são eternas" (Sl 119:160); "tu és Deus! Tuas palavras são verdadeiras" (2Sm 7:28).

A verdade na Bíblia é primariamente uma qualidade pessoal e só em segundo lugar propositiva: isso significa estabilidade, confiança, firmeza, fidelidade, a qualidade da pessoa inteiramente coerente, sincera, realista, que não se deixa enganar. Deus é tal pessoa. A verdade, neste sentido, é sua natureza, e não há nele possibilidade de ser qualquer outra coisa. Por isso ele não pode mentir (Tt 1:2; Nm 23:19; 1Sm 15:29; Hb 6:18). Por isso suas palavras para nós são verdadeiras e não podem ser nada senão a verdade. Elas são o sumário da realidade: mostram-nos as coisas como realmente são, e como serão para nós no futuro de acordo com a atenção que dermos ou não à palavra de Deus.

Vamos estudar um pouco mais esse assunto em duas associações.

1. As ordens de Deus são verdadeiras. "Todos os teus mandamentos são verdadeiros" (Sl 119:151). Por que eles são descritos dessa forma? Primeiro, porque têm constância e continuidade como que mostrando o que Deus quer ver nas pessoas em qualquer época; segundo, porque nos falam da verdade imutável sobre nossa natureza. Isto é parte do propósito da lei de Deus; ela nos fornece uma definição prática da verdadeira humanidade. Mostra-nos a finalidade da vida e nos ensina como ser verdadeiramente humanos e nos adverte contra a autodestruição moral. Trata-se de um assunto de grande importância e que exige muita atenção nos dias atuais.

Estamos acostumados com a idéia de que nossos corpos são máquinas e que precisam seguir uma rotina determinada de alimentação, repouso e exercício se quisermos que funcione eficientemente. O corpo está sujeito a perder a capacidade de funcionamento saudável se abastecido com o combustível errado: álcool, venenos, drogas, terminando por "engripar" de vez na morte física. O que talvez tenhamos mais dificuldade para entender é que Deus deseja que pensemos em nossa alma de modo semelhante.

Como pessoas racionais, fomos criados para ter a imagem moral de Deus, isto é, nossa alma foi feita para "funcionar" praticando a adoração, a observação das leis, a fidelidade, a honestidade, a disciplina, o auto-controle e para servir a Deus e ao próximo. Se abandonarmos essas práticas, não apenas seremos culpados diante de Deus, mas também destruiremos progressivamente nossa alma. A consciência se atrofia, o senso de vergonha desaparece, a capacidade de ser fiel, leal e honesto é destruída, e o caráter se desintegra. Tornamo-nos não apenas desespera-damente miseráveis, mas somos gradualmente desumanizados. Este é um aspecto da morte espiritual. Richard Baxter estava certo ao formular a alternativa, como "Um santo ou um bruto": essa, no final, é a única escolha; e todos, cedo ou tarde, consciente ou inconscientemente, optarão por uma ou pela outra alternativa.

Hoje em dia, algumas pessoas sustentarão, em nome do humanismo, que a moralidade sexual "puritana" da Bíblia é prejudicial para se alcançar a verdadeira maturidade humana, e que um pouco mais de liberdade torna a vida mais rica. O nome exato para essa ideologia, em nossa opinião, não é humanismo, mas brutismo. A lassidão sexual não o tornará mais humano; em vez disso o tornará menos humano. Ela o brutalizará e dilacerará sua alma. A mesma coisa acontece sempre que qualquer mandamento de Deus é desrespeitado. Viveremos de forma realmente humana apenas enquanto estivermos nos esforçando para guardar os mandamentos de Deus. Não há outro modo.

2. As promessas de Deus são verdadeiras, pois ele as cumpre."... aquele que prometeu é fiel" (Hb 10:23). A Bíblia proclama em termos superlativos a fidelidade de Deus. "... a tua fidelidade (chega) até às nuvens" (Sl 36:5); "A tua fidelidade é constante por todas as gerações" (Sl 119:90); "grande é a sua fidelidade!" (Lm 3:23).

Como a fidelidade de Deus se apresenta? Pelo infalível cumprimento de suas promessas. Ele é o Deus que mantém a aliança; ele nunca engana quem confia em sua palavra. Abraão provou a fidelidade de Deus, esperando por um quarto de século, com idade avançada, pelo nascimento do herdeiro prometido, e milhões mais a têm provado desde então.

Nos dias em que a Bíblia era universalmente reconhecida nas igrejas como "A Palavra escrita de Deus", entendia-se claramente que as promessas divinas registradas nas Escrituras eram a base própria, dada por Deus, para toda uma vida de fé. O modo de fortalecer a fé era se concentrar em determinadas promessas que se aplicavam às condições do indivíduo. Samuel Clark,[1] um puritano moderno escreveu na introdução de sua obra Scripture promisses; or, the Christian's inheritance: a collection of the promises of Scripture under their proper heads [Promessas das Escrituras ou a herança cristã: uma coleção de promessas das Escrituras classificadas por assunto]:

A atenção fixa e constante às promessas e a crença firme nelas poderiam evitar a preocupação e a ansiedade quanto aos problemas desta vida. Poderia manter a mente quieta e serena em qualquer mudança e sustentar e manter nosso espírito decadente sob as diversas dificuldades da vida... Os cristãos negam a si mesmos os mais sólidos confortos pela descrença e esquecimento das promessas de Deus. Pois não há situação tão desesperadora para a qual não exista uma promessa adequada e perfeitamente capaz de trazer alívio.

O conhecimento total das promessas seria de grande vantagem para a oração. Com que segurança o cristão pode dirigir-se a Deus em Cristo quando considera as repetidas afirmações de que suas preces serão ouvidas! Com que alegria pode apresentar os desejos de seu coração quando se lembra dos textos onde é prometida a misericórdia! E com que fervor de espírito e grande fé pode reforçar suas orações apoiando-se nas promessas feitas graciosamente e que se aplicam a seu caso!

Estas coisas costumavam ser entendidas, mas a teologia liberal, com sua recusa em identificar as Escrituras escritas com a palavra de Deus, tem-nos privado largamente do hábito de meditar sobre as promessas e de basear nelas nossas orações, aventurando-nos pela fé na vida diária até aonde as promessas nos levarão. As pessoas hoje em dia zombam das caixinhas de promessa que nossos avós usavam, o que não é uma atitude sábia. As caixas de promessas podem ter sido usadas de modo errado, mas a abordagem das Escrituras e da oração que elas expressavam estava certa. Trata-se de uma perda que devemos recuperar.
.
[1].Destacado estudioso da Bíblia (1684-1750), era descendente de uma longa linhagem de ministros puritanos. Foi ordenado na Capela Dagnall Lane, freqüentada por muito pastores dissidentes. Tornou-se conhecido pela dedicação ao ministério e por fundar escolas de caridade para crianças (que permaneceram em operação por mais de cem anos).
.
J. I. Packer, O Conhecimento de Deus.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Você não tem de ser produtivo

Saiba que você não tem de ser produtivo. Com isso eu quero dizer: sua significância não vem da sua produtividade. Ela vem de Cristo, que obedeceu a Deus perfeitamente em nosso favor, de modo que nossa significância e posição diante de Deus vêm dele, não de algo que fazemos. Então, com base nisso, nós exercemos as boas obras (que é o que a produtividade é) e as fazemos zelosamente, como é dito em Tito 2:14: “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.”

David Mathis, em You don't have do be productive

Traduzido por Saulo R. do Amaral

Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo algum o lançarei fora


terça-feira, 24 de novembro de 2009

Os escolhidos vão a Cristo

Se você perguntar: como posso saber se estou entre os escolhidos? Como posso saber que fui dado a Jesus e que ele me guardará e me ressuscitará? A resposta é bem simples: “Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.” (João 6:35).

Se você se achegar a ele dessa forma, você foi dado ao Filho. E se você foi dado ao Filho pelo Pai, você será guardado, e se você está guardado, você será ressuscitado no último dia. Venha. Venha agora. Venha a cada hora de cada dia. Amém.

John Piper

Traduzido por Saulo R. do Amaral

Extraído do sermão Behold, Believe, Be Raised

Leitura: João 6
33 Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. 34 Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão. 35 Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. 36 Porém eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes. 37 Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. 38 Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. 39 E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. 40 De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. 41 Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu. 42 E diziam: Não é este Jesus, o filho de José? Acaso, não lhe conhecemos o pai e a mãe? Como, pois, agora diz: Desci do céu? 43 Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. 44 Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma estratégia de apologética bíblica

Nossa estratégia de apologética bíblica parte do reconhecimento que o cristianismo é o único sistema dedutivo com um princípio primeiro autoconsistente e autojustificável que foi infalivelmente revelado por um Deus onipotente e onisciente e que é amplo o bastante para produzir um número suficiente de proposições para uma cosmovisão autoconsistente e abrangente. O cristianismo é a única cosmovisão verdadeira, e somente ele torna o conhecimento possível. Todos os demais sistemas de pensamento desmoronam no ceticismo filosófico, mas como o ceticismo é autocontraditório [pois alega saber que não podemos saber nada], não é possível alguém permanecer nessa condição, e o cristianismo é a única saída do abismo epistemológico.

(...)

Entre outras coisas, uma estratégia bíblica de apologética desafia os não cristãos a serem consistentes com suas próprias cosmovisões e pressuposições explícitas, exigindo que parem de usar pressuposições bíblicas na construção dos seus sistemas. Porque os não cristãos não podem fazer isso, seus edifícios intelectuais colapsam em ceticismo autocontraditório. A única saída é o arrependimento pela sua tolice e pecaminosidade, e a conversão. Essa estratégia de argumentação será bem sucedida não apenas contra filosofia seculares, mas também contra todas as cosmovisões religiosas não cristãs.

A questão de como é possível uma pessoa conhecer alguma coisa [epistemologia] é suficiente para demolir qualquer cosmovisão não cristã. A menos que a pessoa afirme um conjunto abrangente de doutrinas bíblicas cobrindo todos os aspectos da vida e do pensamento – isto é, a menos que ela firme uma cosmovisão bíblica completa – pode-se facilmente demonstrar que suas crenças são injustificadas, arbitrárias e inconsistentes. É possível que o não cristão nem saiba qual é o princípio primeiro ou autoridade última da sua cosmovisão, mas o apologista cristão pode chegar ao seu conhecimento fazendo as perguntas certas. Isso envolverá provavelmente perguntas diretamente relacionadas ao tópico em discussão, seja ele qual for e questões relacionadas àquilo que o não cristão pensa sobre assuntos últimos (como metafísica e epistemologia), que incluirão questões sobre como o não cristão tenta justificar suas crenças.

(...)

Por derivar do conteúdo e autoridade da Escritura, esse método de argumentação possibilita até mesmo uma criança educada em teologia cristã humilhar completamente os maiores filósofos e cientistas não cristãos.

Vincent Cheung, em Questões Últimas

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Obedecer a Cristo

Josué foi especialmente exortado a continuar no caminho da obediência. Ele era o comandante, mas havia um grande Comandante-em-chefe que deu a ele as ordens de marcha. Josué não foi deixado ao seu próprio julgamento falível, ou à sua opinião instável, mas ele tinha de fazer de acordo com tudo o que havia sido escrito no livro da lei.

Assim é conosco, que somos crentes. Não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça; ainda assim, há uma regra do evangelho a qual estamos obrigados a seguir, e a lei na mão de Cristo é uma regra de vida prazerosa para o crente. Não podemos seguir, no serviço de Deus, nossas próprias opiniões. Não temos permissão para inventar regras de acordo com nossas próprias concepções, mas a nossa direção é “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Seus servos devem servi-lo, suas ovelhas devem seguir seus passos, seus discípulos devem obedecer ao seu Senhor, seus soldados devem cumprir sua vontade: “Pelos seus frutos os conhecereis”. Se não somos obedientes a Cristo, podemos estar certos de que não temos o espírito de Cristo, e não somos dele.

C. H. Spurgeon

Traduzido por Saulo Rodrigo do Amaral

Extraído do site The Daily Spurgeon

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Crer e Observar

O que é um cristão? Ele pode ser descrito sob muitos ângulos, mas partindo-se do que dissemos é claro que resumiremos tudo ao dizer; é alguém que conhece e vive sob a palavra de Deus. É quem se submete sem reservas à palavra de Deus escrita no "Livro da Verdade" (Dn 10:21), crê nos ensinamentos, confia nas promessas e segue os mandamentos. Seus olhos vêem o Deus da Bíblia como seu Pai, e o Cristo da Bíblia como seu Salvador.

Se você lhe perguntar ele dirá que a palavra de Deus o convenceu de seu pecado e também lhe deu a garantia do perdão. Sua consciência, como a de Lutero, é cativa à palavra de Deus, e ele aspira como o salmista a pautar sua vida de acordo com ela. "Quem dera fossem firmados os meus caminhos na obediência aos teus decretos [...] não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos [...] ensina-me os teus decretos. Faze-me discernir o propósito dos teus preceitos [...] Inclina o meu coração para os teus estatutos [...] Seja o meu coração íntegro para com os teus decretos" (Sl 119:5,10,26,27,36,80). As promessas estão diante dele enquanto ora e os preceitos estão à sua frente quando se move entre as pessoas.

O cristão sabe que além de a palavra de Deus ter sido dirigida diretamente a ele por meio das Escrituras, ela também foi proferida a fim de criar, controlar e ordenar as coisas que o rodeiam. Entretanto como as Escrituras lhe dizem que todas as coisas contribuem juntamente para o seu bem, a idéia de Deus ordenar todas as circunstâncias só lhe traz alegria. Ele é uma pessoa independente, pois usa a palavra de Deus como uma pedra de toque pela qual testa as diversas idéias que lhe são apresentadas e não aceitará coisa alguma sem ter certeza da aprovação das Escrituras.

Por que esta descrição se aplica a tão poucos de nós que professamos ser cristãos nestes dias? Você terá grande proveito se fizer esta pergunta a sua consciência e deixar que ela lhe fale.
.
J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, pg 105. Editora Mundo Cristão

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quando você não estiver a fim

Jon BloomVocê acorda sem estar a fim de ler sua Bíblia e orar? Quantas vezes hoje você teve de lutar por não estar a fim de fazer coisas que você sabe que seriam boas para você?

Embora seja verdade que isso é o pecado que habita em nós, e que devemos nos arrepender dele e combatê-lo, há muito mais por trás.

Pense sobre esse estranho padrão que ocorre sempre e sempre em todas as áreas da vida:

* Uma boa comida requer disciplina para prepará-la, enquanto comer fast food tende a ser mais apetitoso, viciante e conveniente.

* Manter o corpo forte e saudável requer um desconforto deliberado, mas só precisamos de constante conforto para criar barriga.

* Você precisa se concentrar naquele livro de teologia abençoador, enquanto assistir um filme parece ser tão convidativo.

* Você frequentemente tem de se esforçar em suas devoções e orações, enquanto dormir, ler sobre esportes e checar o Facebook parecem tarefas simples.

* Tocar uma bela música requer centena de horas de prática tediosa.

* Sobressair-se nos esportes requer treinos monótonos ad nauseum.

* São precisos anos e anos de estudo só para que certas oportunidades tornem-se possíveis.

* E por aí vai.

O padrão é este: as maiores alegrias são obtidas por meio de esforço e dor, enquanto alegrias breves, insatisfatórias e frequentemente destrutivas estão bem próximas de nossos dedos. Por que é assim?

Porque, por grande misericórdia, Deus está nos mostrando em todos os lugares, em coisas que são apenas sombras das coisas celestiais, que há uma grande recompensa para aqueles que são atribulados (Hebreus 10.32-35). Ele está nos lembrando repetidamente, a cada dia, a andar pela fé e não pelo que vemos (2 Coríntios 5.7).

Cada tribulação é um convite de Deus a seguirmos os passos de seu Filho, que “pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus” (Hebreus 12.2).

Aqueles que são espiritualmente cegos veem somente futilidade nessas coisas. Mas para aqueles que têm olhos para ver, Deus imprime esperança (fé na graça futura) dentro da futilidade da Criação (Romanos 8.20,21). Cada tribulação é um sinal dizendo: “Olhe! Olhe para a alegria verdadeira diante de você!”.

Portanto, quando você não está muito a fim de fazer o que você sabe que é o melhor para você, tome coragem e não desista. Seu Pai está sinalizando para você a recompensa que ele planejou para todos que perseveram até o fim (Mateus 24.13).

Por este ângulo, a aflição momentânea está nos preparando para o eterno peso da glória, além de toda comparação, quando olhamos não para as coisas visíveis, mas para as que são invisíveis. Porque o que é visível é temporário, mas as coisas que são invisíveis são eternas.

Jon Bloom

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo

Tomás de Aquino sobre a providência de Deus na vida dos predestinados

A cegueira é preâmbulo do pecado. Ora, o pecado leva a duas coisas: por ele mesmo, à condenação; mas, pela misericordiosa providência de Deus, à cura. Assim, Deus permite que certos caiam no pecado a fim de que, como diz Agostinho, reconheçam seu pecado, humilhem-se e se convertam. (...) Pela misericórdia divina ela é temporariamente ordenada como uma medicina para a salvação daqueles que são obcecados. Entretanto, esta misericórdia não é concedida a todos os obcecados, mas unicamente aos predestinados, para os quais "tudo concorda para o bem", como diz a Carta aos Romanos. Desde modo, para alguns a cegueira se ordena à salvação, mas, para outros, à condenação.

(...) Portanto, deve-se dizer que todos os males que Deus faz ou permite são ordenados a algum bem. Entretanto, nem sempre ao bem daquele no qual está o mal, mas algumas vezes, ao bem de um outro, ou ainda ao bem de todo o conjunto. É assim que ordenou a culpa dos tiranos ao bem dos mártires; e a pena dos condenados ordena à glória de sua justiça.

Tomás de Aquino
, em Suma Teológica, tomo IV.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Devo dar todo o meu dízimo para a igreja local?

Não há uma ordem bíblica clara de proporcionalidade, de quanto você deve dar para a sua igreja e de quanto dar para outros ministérios.


Como um pastor, se alguém viesse a mim e perguntasse “Gostaria de dar o dízimo. Onde devo entregá-lo?", eu diria “Bom, creio que uma maneira prática de proceder seria dizer que, considerando que esta é a sua família de crentes, com seu próprio conjunto de necessidades, e que você se beneficia com a igreja e dedica a sua vida a ela, começar dando o dízimo aqui seria uma boa ideia. E, a partir daí, você pode dar mais em outros lugares”.

Mas eu nunca diria “Você deve dar o seu dízimo para esta igreja”. Simplesmente não acho isso na Bíblia. Eu não tenho como embasar isso com textos bíblicos.

Quando pensamos a respeito do que as igrejas precisam para sobreviver e prosperar, creio que elas precisam de, aproximadamente, um décimo do que seus membros têm, e mais. Você pode ficar livre para ir além.

Quanto a mim, dou quase tudo para a igreja. Sinto-me tão em dívida aqui, e tão grato, que dou quase tudo aqui. Há outras pequenas coisas que faço, a favor de causas Pró-vida. Estou sempre preenchendo pequenos cheques aqui e ali. Mas a substância da minha contribuição é na igreja local.

Eu encorajaria as pessoas a refletirem com um pastor a respeito do que seria uma boa base para contribuir na igreja, e, então, os encorajaria a serem generosos em outros lugares também.

John Piper

Traduzido por Saulo Rodrigo do Amaral

Texto traduzido da transcrição de áudio disponibilizada pelo
site Desiring God, na seção Ask Pastor John

Para ler mais sobre o tema, veja um artigo de Rushdoony.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Por Que a Crença no Inferno é Fundamental?

Hoje é o dia de comunicações rápidas. Amanhã é o dia de negócios. A eternidade é o dia da verdade. Se você vive somente para este mundo, se importará pouco com a verdade. “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos”. Se isso tudo existe, podemos muito bem chamar de “verdade” as idéias que protegem nossos apetites. Mas, se você vive para a eternidade, rejeitará as modas populares e efêmeras, para se tornar eternamente relevante.

Temos de valorizar a verdade acima do sucesso temporário. Onde a verdade é minimizada e as pessoas não estão nela arraigadas e fundamentadas, o sucesso é superficial, e a árvore cresce oca, embora floresça no sol da prosperidade. Que Deus nos dê um amor humilde submisso pela verdade da Palavra de Deus, na profundeza e plenitude dela.

Ouçam a advertência de Paulo a respeito de nossos dias: “Haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (2Tm 4.3). “[Eles] perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos” (2 Ts 2.10). Considere uma verdade que não é popular e tem sido abandonada por muitos que têm sobre a sua tenda a bandeira de “evangélico” – a verdade a respeito do inferno. Oh! Que grande diferença existe quando uma pessoa crê no inferno – com tremor e lágrimas! Existe uma seriedade permeando toda a vida, uma urgência em todos os esforços, um condimento de profunda seriedade que tempera tudo e faz com que o pecado sinta-se mais pecaminoso, e a santidade mais santa, a vida mais preciosa, os relacionamentos mais profundos e Deus muito mais importante.

Entretanto, como em toda geração, existem novos abandonos da verdade. Clark Pinnock, um teólogo canadense que insiste em se chamar evangélico, escreveu:

A princípio fui levado a questionar a crença tradicional no tormento eterno e consciente, porque me era moralmente repugnante e por considerações teológicas mais amplas, e não por considerações de textos bíblicos. Não é lógico dizermos que um Deus de amor afligirá pessoas para sempre, por causa de pecados cometidos no contexto de uma vida finita... É tempo de os evangélicos se levantarem e afirmarem que o ensino bíblico moralmente apropriado sobre o inferno é a aniquilação, e não o tormento eterno.(1)
Dorothy Sayers, que faleceu em 1957, expressou um antídoto necessário para este tipo de abandono da verdade:

Parece existir um tipo de conspiração, especialmente entre os escritores de meia idade que possuem uma tendência vagamente liberal, para esquecer ou anular de onde procede a doutrina sobre o inferno. Encontramos freqüentes referências à “cruel e abominável doutrina medieval do inferno” ou “a grotesca e ingênua imagem medieval de vermes e fogo”.

O caso, porém, é exatamente o contrário. Encaremos os fatos. A doutrina do inferno não é “medieval”; é uma doutrina ensinada por Cristo. Não é um artifício do “clero medieval” para atemorizar o povo e fazê-lo dar dinheiro à igreja. O inferno é o julgamento deliberado de Cristo sobre o pecado. A imagem de vermes que não morrem e de fogo inextinguível deriva-se não da “superstição medieval”, e sim do profeta Isaías; e foi Cristo quem a usou enfaticamente... Ela nos confronta no mais antigo e menos “editado” dos evangelhos; está explícita em muitas das parábolas mais familiares e implícita em muitas outras.
Essa figura tem, nos ensinos de Cristo, uma dimensão maior do que alguém possa perceber, até que comece a ler todos os evangelhos, em vez de selecionar e ler somente as passagens mais consoladoras. Ninguém pode se livrar desta doutrina, sem despedaçar o Novo Testamento. Não podemos repudiar o inferno, sem repudiarmos a Cristo.(2)

Eu acrescentaria: existem muitas outras coisas que, abandonadas, também equivalerão ao eventual repúdio de Cristo. Não é por causa de uma lealdade ultrapassada que amamos as verdades da Escritura – nem mesmo as mais severas. É por causa do amor a Cristo – e por causa do amor para com o seu povo – povo esse que somente o Cristo da verdade pode salvar.
.
1 – Clark Pinnock and Delwin Brown, Theological Crossfire: Na Evangelical Liberal Dialogue (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1990), pp. 226-227.
2 – Dorothy Sayers, A Matter of Eternity, ed. Rosamond Kent Sprague (Grand Rapids, Eerdmans, 1973), p. 86
.
John Piper, Penetrado pela Palavra.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

DA FÉ

A FÉ É UM DOM DE DEUS

Se considerarmos honestamente em nosso interior até que ponto é cego nosso pensamento ante os segredos celestiais de Deus, e até que ponto é nosso coração infiel em tudo, não duvidaremos que a fé ultrapassa infinitamente todo o poder de nossa natureza, e que é um dom extraordinário e precioso de Deus. Como diz são Paulo: "Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" (1 Coríntios 2:11, ACF). Se a verdade de Deus vacilar em nós, inclusive tratando-se de coisas que nosso olho vê, como vai ser firme e estável quando o Senhor promete coisas que nem nosso olho vê nem nossa inteligência compreende? Vemos, pois, que a fé é uma iluminação do Espírito Santo, que esclarece nossas inteligências e fortalece nossos corações. Ela nos convence com certeza e nos da a segurança de que a verdade de Deus é de modo tal certa, que Deus cumprirá tudo o que em sua santa Palavra prometeu que Ele faria. Eis aqui por que o Espírito Santo é designado como "penhor" que confirma em nossos corações a certeza da verdade divina, e como um selo que selou nossos corações na espera do dia do Senhor. O Espírito Santo dá testemunho a nosso espírito de que Deus é nosso Pai e nós, seus filhos.

SOMOS JUSTIFICADOS EM CRISTO PELA FÉ

Sendo Cristo o objeto permanente da fé, não podemos saber o que recebemos pela fé senão olhando para Ele. Agora bem, o Pai nos o entregou para que tenhamos nEle a vida eterna. Jesus disse: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste" (João 17:3, PJFA); e também: "quem crê em mim, ainda que morra, viverá" (João 11:24, PJFA). Contudo, para que isto se cumpra, é necessário que sejamos purificados nEle, já que estamos manchados pelo pecado, e nada impuro entrará no Reino de Deus. Pelo qual necessitamos participar nEle, para que nós, que somos pecadores em nós mesmos, sejamos pela sua justiça achados justos ante o trono de Deus. E deste modo, despojados de nossa própria justiça, somos revestidos da justiça de Cristo e, sendo por nossas obras, injustos, somos justificados pela fidelidade de Cristo. Pois se diz que somos justificados pela fé, não porque recebamos em nosso interior alguma justiça, senão porque nos é atribuída a justiça de Cristo como se fosse nossa, enquanto que não nos é imputada nossa própria injustiça. De modo tal que é possível, resumindo numa palavra, chamar a esta justiça de remissão dos pecados. Isto é o que o apóstolo declara expressamente comparando com freqüência a justiça das obras com a justiça da fé, e ensinando que uma destrói a outra. Estudando o símbolo dos apóstolos — que indica por sua ordem todas as realidades sobre as que está fundada e se apóia nossa fé—,veremos como Cristo nos tem merecido esta justiça e em que consiste a mesma.
.
João Calvino. A Verdade Para Todos os Tempos

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O porquê de amarmos as Doutrinas da Graça

A eleição incondicional profere os julgamentos mais ásperos e doces à minha alma. Por ela ser incondicional, destrói toda auto-exaltação; por ser eleição, faz-me ser seu tesouro. Esta é uma das belezas das doutrinas bíblicas da graça: as suas piores devastações nos preparam para as suas maiores delícias. Que arrogantes nós nos tornaríamos com as palavras: “Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra” (Deuteronômio 7:6), se essa eleição fosse, de alguma forma, dependente da nossa vontade. Mas para nos proteger do orgulho, o Senhor nos ensina que nós somos incondicionalmente escolhidos (7:7-9). “Ele fez de um miserável o seu tesouro”, como nós alegremente cantamos. Somente a liberdade devastadora e a incondicionalidade da graça eletiva nos permitem obter e provar tais presentes sem a exaltação do ego.

John Piper

Traduzido por Saulo Rodrigo do Amaral

Extraído do site Desiring God

  ©Orthodoxia desde 2006

TOPO