terça-feira, 30 de junho de 2009

A declaração de Cambridge

As igrejas evangélicas de hoje estão cada vez mais dominadas pelo espírito deste século em vez de pelo Espírito de Cristo. Como evangélicos, nós nos convocamos a nos arrepender desse pecado e a recuperar a fé cristã histórica.

No decurso da História, as palavras mudam. Na época atual isso aconteceu com a palavra evangélico. No passado, ela serviu como elo de união entre cristãos de uma diversidade ampla de tradições eclesiásticas. O evangelicalismo histórico era confessional. Acolhia as verdades essenciais do Cristianismo conforme definidas pelos grandes concílios ecumênicos da Igreja. Além disso, os evangélicos também compartilhavam uma herança comum nos "solas" da Reforma Protestante do século 16.

Hoje, a luz da Reforma já foi sensivelmente obscurecida. A conseqüência foi a palavra evangélico se tornar tão abrangente a ponto de perder o sentido. Enfrentamos o perigo de perder a unidade que levou séculos para ser alcançada. Por causa dessa crise e por causa do nosso amor a Cristo, seu evangelho e sua igreja, nós procuramos afirmar novamente nosso compromisso com as verdades centrais da reforma e do evangelicalismo histórico. Nós afirmamos essas verdades e não pelo seu papel em nossas tradições, mas porque cremos que são centrais para a Bíblia.

Para ler toda a declaração, clique aqui.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

É dever do marido...

O primeiro dever do marido é amar a esposa, e isso é expresso imitando a forma que Cristo ama sua igreja, santificando-a pela palavra de Deus. Isto é, como um marido, você deve amar sua esposa ajudando-a a progredir em santificação, em conhecimento e em santidade. Portanto, para imitar o exemplo de Jesus em nossa passagem [Lucas 10:38-42], você deve defender e proteger o seu direito de aprender como uma discípula de Cristo, ouvindo e obedecendo a palavra de Deus.

Isto tem diversas implicações práticas. Por exemplo, isso pode significar que quando sua esposa desejar te servir ou ao lar de uma forma particular que ela considere como parte do dever dela, você deve algumas vezes encorajá-la a ler uma teologia sistemática ou um comentário bíblico ao invés disso. Mas não permanece verdadeiro que algumas coisas no lar devem ser feitas? Isso é verdade, então vá e faça-as você.

O ponto é que você deve assistir sua esposa a crescer como uma discípula de Cristo, tanto em pensamento como em conduta, tanto em conhecimento como em santidade, mesmo que isso exija fazer alguns sacrifícios da sua parte. Você deve reconhecer que ela é uma co-herdeira da vida eterna (1 Pedro 3:7), que ela é uma discípula tanto quanto você o é, e então, você deve agir como tal. Isso é o fruto do verdadeiro amor, como Cristo ama sua igreja, e também seu dever como um marido.

Vincent Cheung, em A única coisa necessária

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Por que o justo sofre?

No âmago da mensagem do livro de Jó, acha-se a sabedoria que responde à questão a respeito de como Deus se envolve no problema do sofrimento humano. Em cada geração, surgem protestos, dizendo: “Se Deus é bom, não deveria haver dor, sofrimento e morte neste mundo”. Com este protesto contra as coisas ruins que acontecem a pessoas boas, tem havido tentativas de criar um meio de calcular o sofrimento, pelo qual se pressupõe que o limite da aflição de uma pessoa é diretamente proporcional ao grau de culpa que ela possui ou pecados que comete.

No livro de Jó, o personagem é descrito como um homem justo; de fato, o mais justo que havia em toda a terra. Mas Satanás afirma que esse homem é justo somente porque recebe bênçãos de Deus. Deus o cercou e o abençoou acima de todos os mortais; e, como resultado disso, Satanás acusa Jó de servir a Deus somente por causa da generosa compensação que recebe de seu Criador.

Da parte do Maligno, surge o desafio para que Deus remova a proteção e veja que Jó começará a amaldiçoá-Lo. À medida que a história se desenrola, os sofrimentos de Jó aumentam rapidamente, de mal a pior. Seus sofrimentos se tornam tão intensos, que ele se vê assentado em cinzas, amaldiçoando o dia de seu nascimento e clamando com dores incessantes. O seu sofrimento é tão profundo, que até sua esposa o aconselha a amaldiçoar a Deus, para que morresse e ficasse livre de sua agonia. Na continuação da história, desdobram-se os conselhos que os amigos de Jó lhe deram — Elifaz, Bildade e Zofar. O testemunho deles mostra quão vazia e superficial era a sua lealdade a Jó e quão presunçosos eles eram em presumir que o sofrimento indescritível de Jó tinha de fundamentar-se numa degeneração radical do seu caráter.

Eliú fez discursos que traziam consigo alguns elementos da sabedoria bíblica. Todavia, a sabedoria final encontrada neste livro não provém dos amigos de Jó, nem de Eliú, e sim do próprio Deus. Quando Jó exige uma resposta de Deus, Este lhe responde com esta repreensão: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Cinge, pois, os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber” (Jó 38.2, 3). O que resulta desta repreensão é o mais vigoroso questionamento já feito pelo Criador a um ser humano. A princípio, pode parecer que Deus estava pressionando Jó, visto que Ele diz: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra?” (v. 4) Deus levanta uma pergunta após outra e, com suas perguntas, reitera a inferioridade e subordinação de Jó. Deus continua a fazer perguntas a respeito da habilidade de Jó em fazer coisas que lhe eram impossíveis, mas que Ele podia fazer. Por último, Jó confessa que isso era maravilhoso demais. Ele disse: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (42.5-6).

Neste drama, é digno observar que Deus não fala diretamente a Jó. Ele não diz: “Jó, a razão por que você está sofrendo é esta ou aquela”. Pelo contrário, no mistério deste profundo sofrimento, Deus responde a Jó revelando-se a Si mesmo. Esta é a sabedoria que responde à questão do sofrimento — a resposta não é por que tenho de sofrer deste modo particular, nesta época e circunstância específicas, e sim em que repousa a minha esperança em meio ao sofrimento.

A resposta a essa questão provém claramente da sabedoria do livro de Jó: o temor do Senhor, o respeito e a reverência diante de Deus, é o princípio da sabedoria. Quando estamos desnorteados e confusos por coisas que não entendemos neste mundo, não devemos buscar respostas específicas para questões específicas, e sim buscar conhecer a Deus em sua santidade, em sua justiça e em sua misericórdia. Esta é a sabedoria de Deus que se acha no livro de Jó.

R.C. Sproul

Fonte: Gospel Translations

terça-feira, 23 de junho de 2009

Você tem dúvidas quanto à sua devoção a Cristo?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A Cabana - parte 2

Para quem leu o primeiro post sobre o livro A Cabana, aqui seguem mais algumas bobagens do livro:

1. A trindade é sempre mostrada como sendo pessoas que estão meio que 'surpresas' com tudo o que acontece no mundo. Ou seja, Deus não tem nada a ver com o que aconteceu à Mackenzie (perda da filha). Eles inclusivem não sabem detalhes da própria familia de Mackenzie, e , apesar de serem conhecedores de tudo, a trindade 'por amor' se limitou a si mesmo, ignorando a verdade. Ficam surpresos, alegres, ou tristes, se entreolham a medida que Mackenzie fala. Veja o seguinte trecho:" Nós nos limitamos por respeito a você. Não estamos trazendo à mente, por assim dizer, nosso conhecimento sobre seus filhos. Ouvimos como se fosse a primeira vez..." (pág 97).

2.
A figura presente é sempre de um Deus meio "indeciso", como se fosse humano. A expressão que aparece diante de uma questão de Mackenzie é "acho que ...". Ou seja, um Deus que "acha que" demonstra um Deus mais para ser semelhante a um homem do que superior a ele. Isso vai de encontro a idéia corrente de Deus como sendo semelhante ao homem, porém um pouco mais sábio e mais velho.

3.
Sobre pecado, o autor propala a idéia comum de que não tem punição para o pecado, já que o erro que se comete já se paga aqui: " Não sou quem voce pensa, Mackenzie. Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro" (pg 109).

4.
Igualdade entre Deus e os homens é outro ensino desse livro. Dificil acreditar que somos iguais a Deus. " ... Mack, queremos compartilhar com voce o amor, a alegria, a liberdade e a luz que já conhecemos em nós. Criamos voces, os humanos, para estarem num relacionamento de igual para igual conosco e se juntarem ao nosso circulo de amor".

5.
Relacionamento é aceitar o outro mesmo quando suas escolhas não são úteis nem saudáveis. Acredito que é parcialmente verdadeiro para os seres humanos, mas isso não se aplica à Trindade, como o autor quer colocar.Veja o que Jesus disse quando estava falando do relacionamento ideal entre ele, Deus e o Espirito Santo.: " Os relacionamentos verdadeiros são marcados pela aceitação , mesmo quando suas escolhas não são úteis nem saudáveis. " (pág 132).

6.
Sobre submissão ele afirma: "Submissão nada tem a ver com autoridade, e não é obediência. Tem a ver com relacionamentos de amor e respeito. Na verdade somos (a trindade) igualmente submetidos a voce (Mackenzie)". Pg 133. Ou seja, Deus se submete ao homem ! É o ideal de todo ser humano decaido ter um Deus que se submeta a ele !!

7.
Sobre homens e mulheres, Jesus (do livro) disse que: "o mundo, em vários sentidos, seria muito mais tranquilo e gentil se as mulheres governassem (em lugar do homem)" pg.135. Parece contrário ao que ensina a Biblia, quando cita como castigo que mulheres e crianças governarão sobre Israel, quando Israel pecasse.

8.
Instituições. Mack perguntou sobre isso. O que disse Jesus (do livro)? "Eu não crio instituiçoes. Nunca criei e nunca criarei.... o casamento não é uma instituição. É um relacionamento...Essa é uma ocupação dos que querem brincar de Deus. Portanto eu não gosto muito (?) de religiões, e também não gosto de economia e politica... essas coisas são ferramentas terríveis que muito usam para sustentar suas ilusões de segurança e controle" (pg. 168).

9.
Reconciliação é com o mundo inteiro? Respondeu Papai: "Com o mundo inteiro, Mack. Estou dizendo que a reconciliação é uma rua de mão dupla e eu fiz a minha parte, totalmente, completamente, definitivamente. Não é da natureza do amor forçar um relacionamento, mas é da natureza do amor abrir o caminho" (pg 180). Cabe ao homem escolher o caminho que quer seguir (e também a força e a responsabilidade para isso). Será assim?

10.
Deus está em todo lugar e em todas as coisas (panteísmo): Mack perguntou se veria de novo a Deus. Resposta:"Claro. Voce pode me ver numa obra de arte, na música, no silencio, nas pessoas, na criação, mesmo na sua alegria e na sua dor". Pg 185.

11.
Sobre se devemos ou não obedecer a lei de Deus, Mack perguntou se não precisava seguir regras ou leis. A resposta foi de que não precisava, pois "em Jesus voce não está sob NENHUMA lei". Mas adiante Mack pergunta: "É por isso que gostamos tanto da lei? Para nos dar algum controle?" Respondeu Sarayu: "ela (a lei) dá o poder de julgar os outros e de se sentir superior a eles...eu gosto demais da incerteza...as regras não podem trazer liberdade. Elas só tem o poder de acusar". Pergunto: será que devemos abandonar os 10 mandamentos?

12.
Uma pessoa que está sem o perdão de outra pessoas, se "alimenta do seu sofrimento", ou seja, se voce não perdoa, aquela pessoa está se alimentando de voce. Deve ser uma espécie de autofagia mental!! Inclusive os mortos também perdoam quem os matam (no livro é o que faz a menina morta pelo bandido). Devemos declarar o perdão em voz alta porque "há poder no que meus filhos declaram", diz Papai. Pag 210 e 211.

Artigo extraído do blog
Tchê Noll. Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O que significa ser cheio do Espírito?

Tradução e legendas: Rupert Teixeira

terça-feira, 16 de junho de 2009

Soberania divina: causa da nossa santificação

Uma das implicações mais preciosas dessa confiança na vontade soberana e inviolável de Deus é que ela provê a base para a esperança da “nova aliança” por santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hebreus 12:14). Na antiga aliança, a lei foi escrita em pedra e trazia morte quando encontrava resistência nos corações não-renovados. Mas a promessa da nova aliança é a de que Deus não deixará seus propósitos para um povo santo naufragarem na fraqueza da vontade humana. Antes, Ele promete fazer o que for preciso para nos transformar naquilo que precisamos ser. “E o SENHOR teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao SENHOR teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas” (Deuteronômio 30:6). “E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” (Ezequiel 36:27). “E farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim” (Jeremias 32:40). “De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:12-13).

John Piper
, em Are there two wills in God?

Tradução:
Saulo Rodrigo do Amaral

sábado, 13 de junho de 2009

Jesus quer a rosa


Tradução e legendas: Rafael Bello

terça-feira, 9 de junho de 2009

Cristo desceu ao Inferno?

Há duas passagens no Novo Testamento que, tomadas de certa forma, pareceriam indicar que Cristo desceu ao inferno. Uma está em Efésios 4:9, onde é dito que Cristo desceu às partes mais baixas da terra. Isso provavelmente significa que ele desceu à terra, que é as partes mais baixas. O “da” ali não significa que ele estava afundando na terra. Assim, não penso que o texto garanta a interpretação que ele desceu ao inferno.

O outro texto é 1 Pedro 3:18-20, onde é dito que Cristo foi pregar aos espíritos que agora estão em prisão. Isto é, eles tinham morrido – tendo vivido nos dias de Noé – e estão agora em prisão; e Cristo foi pregar a eles. Alguns tomam isso como significando que entre a Sexta Feira da Paixão e o Domingo da Ressurreição, Cristo desceu ao inferno e pregou o evangelho ali. Mas tampouco penso que esse seja o significado desse texto. Acredito que ele significa que, quando essas pessoas estavam vivas nos dias de Noé, o Espírito de Cristo pregou a eles através da pregação de Noé; e agora eles estão em prisão.

Assim, minha conclusão é que não existe nenhuma base textual para crer que Cristo desceu ao inferno. De fato, ele disse ao ladrão sobre a cruz: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” Essa é a única pista que temos quanto ao que Jesus estava fazendo entre a morte e a ressurreição. Ele disse, “Hoje — na tarde dessa Sexta, após estarmos mortos — você e eu estaremos no Paraíso juntos.” Não penso que o ladrão foi ao inferno e que o inferno seja chamado Paraíso. Acredito que ele foi para o céu, e que Jesus estava ali com ele.

Dessa forma, eu não digo aquela frase “ele desceu ao inferno [hades]” quando recito o Credo Apostólico. Estude você mesmo e veja se encontra outros fundamentos para tal afirmativa. Quanto a mim, diria que o fundamento para essa sentença particular no Credo Apostólico é, biblicamente falando, muitíssimo fraco.

John Piper

Extraído do site Desiring God

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O cristão e os bens materiais

“Assim também não deixemos passar nenhum tipo de prosperidade que nos beneficie, ou que beneficie a outros, sem declarar a Deus, com louvor e ação de graças, que reconhecemos que tal bênção provém do Seu poder e da Sua bondade” – João Calvino, As Institutas, (1541), III.9.

“.... ainda que a liberdade dos fiéis com respeito às coisas externas não deva ser limitada por regras ou preceitos, sem dúvida deve regular-se pelo princípio de que deve regalar-se o mínimo possível; e, ao contrário, que temos que estar mui atentos para cortar toda superfluidade, toda vã ostentação de abundância – devem estar longe da intemperança! –, e guardar-se diligentemente de converter em impedimentos as coisas que se lhes há dado para que lhes sirvam de ajuda”. (Jo 15.19; 17.14; Fp 3.20; Cl 3.1-4; Hb 11.16; 1Jo 2.15).-- J. Calvino, Institución, III.10.4.

“Para assegurarmos que a suficiência [divina] nos satisfaça, aprendamos a controlar nossos desejos de modo a não querermos mais do que é necessário para a manutenção de nossa vida”. João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.8 ), p. 169.

“Todo aquele que se permite desejar mais do que lhe é necessário, francamente se põe em direta oposição a Deus, visto que todas as luxúrias carnais se lhe opõem diretamente”. -- João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 3, (Sl 106.14), p. 678.

“Os bens terrenos à luz de nossa natural perversidade, tendem a ofuscar nossos olhos e a levar-nos ao esquecimento de Deus, e portanto devemos ponderar, atentando-nos especialmente para esta doutrina: tudo quanto possuímos, por mais que pareça digno da maior estima, não devemos permitir que obscureça o conhecimento do poder e da graça de Deus”. -- João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 48.3), p. 355-356.

“Pôr o coração nas riquezas significa mais que simplesmente cobiçar a posse delas. Implica ser arrebatado por elas a nutrir uma falsa confiança. (...) É invariavelmente observado que a prosperidade e a abundância engendram um espírito altivo, levando prontamente os homens a nutrirem presunção em seu procedimento diante de Deus, e a se precipitarem em lançar injúria contra seus semelhantes. Mas, na verdade o pior efeito a ser temido de um espírito cego e desgovernado desse gênero é que, na intoxicação da grandeza externa, somos levados a ignorar quão frágeis somos, e quão soberba e insolentemente nos exaltamos contra Deus”.

“Os que sofrem dessa praga gradualmente se degeneram até que renunciam completamente a fé” -- João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 62.10), p. 580./João Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.10), p. 170.

terça-feira, 2 de junho de 2009

O cristão e a televisão

Se todas as variáveis são iguais, a sua capacidade de conhecer a Deus talvez diminuirá profundamente em proporção a quanto tempo você assiste à televisão. Há várias razões para isto. Uma das razões é que a televisão reflete nossa cultura em sua maior trivialidade. E uma dieta permanente de trivialidade arruína a alma. Você se acostuma com ela. Começa parecendo normal. Aquilo que é tolo se torna divertido. E o divertido se torna agradável. E o agradável se torna satisfatório à alma. E, no final, a alma que é criada para Deus, desceu ao ponto de satisfazer-se comodamente em trivialidades.

Talvez isto não seja percebido, porque, se tudo o que você conhece é a nossa cultura, não pode perceber que há alguma coisa errada. Quando se lê apenas revistas em quadrinhos, não é de se estranhar que não haja qualquer boa literatura em casa. Quem vive onde não há estações, não sente saudades das cores do outono. Quem assiste a cinqüenta comerciais de televisão, todas as noites, talvez esqueça que existe uma coisa chamada sabedoria. Na maior parte de sua programação, a televisão é trivial. Raramente ela inspira grandes pensamentos ou fortes sentimentos com vislumbres de grandes verdades. Deus é a Realidade absoluta e suprema, que modela todas as coisas. Se Ele obtém algum tempo de transmissão, é tratado como uma opinião. Não há reverência. Não há tremor. Deus e tudo que Ele pensa a respeito do mundo está ausente da televisão. Alienadas de Deus, todas as coisas se encaminham a ruína.

Pense em quão nova é a televisão. Nestes 2.000 anos de história desde a vinda de Cristo, a televisão tem moldado apenas os últimos 2,5% dessa história. Nos outros 97,5% do tempo desde a vinda de Jesus, não havia televisão. E, durante 95% desse tempo, não havia rádio. O rádio entrou em cena no início dos anos 1900. Portanto, durante 1.900 anos de história cristã, as pessoas gastaram seu tempo livre fazendo outras coisas. Perguntamos a nós mesmos: o que elas fizeram? Talvez liam mais. Ou conversavam mais sobre as coisas. Com certeza, elas não foram bombardeadas com trivialidades prejudiciais à alma, transmitidas durante todo o dia.

Você já perguntou: “O que poderíamos fazer que é realmente de valor, se não assistíssemos a televisão?” Observe: não estamos refletindo apenas sobre o que a televisão nos faz com seus rios de vacuidade, mas também sobre o que ela nos impede de fazer. Por que você não faz uma experiência? Faça uma lista do que você poderia realizar, se usasse o tempo que gasta assistindo a televisão e o dedicasse a outra coisa. Por exemplo:

1. Você poderia ser inspirado a uma grande realização por aprender sobre a vida de Amy Carmichael, uma mulher nobre e piedosa, e sobre a coragem dela ao servir sozinha às crianças da Índia. De onde vêm esses sonhos radicais? Não vêm de assistirmos à televisão. Abra sua alma para que ela seja dilatada por meio de uma indescritível vida de consagração a uma grande causa.

2. Você poderia ser inspirado pela biografia de um homem de negócios, ou de um médico, ou de uma enfermeira, para obter a habilidade de abençoar outros com a excelência de uma profissão dedicada a um alvo mais elevado do que qualquer coisa que a televisão recomenda sem jamais incluir a Jesus.

3. Poderia memorizar o oitavo capítulo da Carta aos Romanos e penetrar nas profundezas da percepção de Paulo quanto à pessoa de Deus. E, ainda, descobrir o precioso poder da memorização das Escrituras em sua vida e seu ministério. Ninguém pode avaliar o poder que viria a uma igreja, se todos os seus membros desligassem a televisão por um mês e dedicassem o mesmo tempo à memorização das Escrituras.

4. Poderia escrever uma poesia simples ou uma carta para um parente, um filho, um amigo ou um colega, expressando profunda gratidão pela vida deles ou anelos em relação a alma deles.

5. Poderia fazer um bolo ou um prato especial para os vizinhos e entregá-lo com um sorriso e um convite de virem à sua casa, para se conhecerem mutuamente.

Portanto, existem muitas razões para se tentar um jejum de televisão ou simplesmente afastarmo-nos dela por completo. Não temos possuído um aparelho de televisão por trinta e quatro anos, exceto por três anos, quando estivemos na Alemanha e o usamos para aprender o idioma. Não existe virtude inerente nisto. Menciono-o apenas para provar que podemos criar cinco filhos sensíveis à cultura e informados biblicamente sem a televisão. Eles nunca se queixaram disso. Na verdade, freqüentemente se admiram com o fato de que pessoas conseguem encontrar tanto tempo para assistirem a televisão.

John Piper, em Penetrado Pela Palavra

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Arranjado no Céu

Ele sabe que ela é especial. E ela sabe que ele é único. De todas as pessoas no mundo, eles percebem que foram feitos um para o outro. É como se isto tivesse sido estabelecido desde o tempo da criação. E de certa forma, foi mesmo.

Por trás de cada casal que se conhece, há uma cadeia de eventos que volta ao início dos tempos. Se reconstituirmos a cadeia até seu início, descobriremos que na verdade ele remonta à criação.

Veja o seguinte caso: Ele é apresentado a ela por um amigo. Mas como ele conheceu o amigo? Todos os eventos que o levaram ao encontro desse amigo também devem ser levados em consideração. Digamos que ele conheceu o amigo na escola. Por que ele foi àquela determinada escola? Por que foi atraído àquele amigo em particular? Como ela fez contato com aquele amigo? A resposta pode nos levar a anos, e até gerações, em retrocesso.

Tomemos outro caso: Ela e ele foram vizinhos durante toda a vida. Então, certo dia, ela percebe que entre todos os homens no mundo, havia nele algo de especial. Mas por que eles viveram um ao lado do outro, para começar? Por que os pais de ambos decidiram comprar casas ali. Mas o que levou os pais a tomar aquela decisão? Talvez idéias que receberam de seus pais. E essas idéias podem ter vindo dos pais de seus pais. Mais uma vez, a cadeia de eventos vai de uma geração a outra.

Vejamos um terceiro caso: Ela foi do Brasil a Israel para estudar. Ele veio da Austrália numa viagem turística. Um encontro ao acaso e houve um estalo. Eles podem ter vindo de cantos opostos do mundo, mas de alguma forma agora estão juntos.

Sempre que uma pessoa encontra “alguém” especial, é como se ocorresse um milagre. De alguma maneira, por meio de uma sucessão de coincidências e cadeias de eventos, D’us os aproximou. É um milagre que trará felicidade ao casal, e de certa forma, começa a criação de um novo mundo.

Além dos eventos que aproximaram o casal, há também os fatores que fizeram com que eles existissem. Estes também remontam aos primórdios da criação. Isto considerado, vemos todo casamento como tendo sido iniciado ao princípio dos tempos e arremessado para perdurar por gerações por toda a eternidade. Considere por um momento a ancestralidade do rapaz e da moça. Obviamente, cada qual tem dois pais. Volte mais uma geração, e aparecem quatro avós. Mais uma geração, e são oito bisavós. Continue assim, e encontrará dezesseis tetravós, e trinta e dois pais desses dezesseis.

O cálculo torna-se então um pouco mais difícil,especialmente para alguém não especialmente dotado em matemática. Porém os resultados são fascinantes. Alguns minutos com uma calculadora, e torna-se óbvio que voltando-se dez gerações, uma pessoa tem 1024 ancestrais. Vinte gerações, e tem 1.048.576 – mais de um milhão!

Depois disso, os números tornam-se quase absurdos. Depois de trinta gerações, o número de antepassados de uma pessoa seriam mais de um bilhão. Após quarenta gerações, acima de um trilhão! Este último número obviamente é um absurdo. É maior que o número total de pessoas que jamais existiram. Ninguém pode ter mais ancestrais que o número de pessoas. Este número simplesmente significa que as linhas ancestrais se cruzam, e uma pessoa descende do mesmo indivíduo em mais de uma maneira. Voltando a algo em torno de quarenta gerações, a pessoa encontrará os mesmos ancestrais aparecendo uma e outra vez em locais diferentes da árvore genealógica.

Em qualquer caso, leva menos de quarenta gerações para uma pessoa encontrar um número de antepassados maior que a população total do mundo. Porém quarenta gerações não é um tempo impossivelmente longo. Se considerarmos a geração média como sendo 25 anos, quarenta gerações totalizam somente mil anos.

Este é um ponto fascinante. Se voltarmos mil anos ao ancestral de uma única pessoa, descobrimos que esta pessoa poderia descender de todo ser humano vivo naquela época. Colocando isso de outra maneira, seria preciso toda a população do mundo há mil anos para fornecer os ingredientes singulares de hereditariedade e ambiente que produziram aquele único indivíduo do jeito que ele é hoje.

Se alguém contemplar o mundo de mil anos atrás, toda pessoa que vir provavelmente será um ancestral do rapaz ou da moça que estão aqui hoje. Todo casamento que ocorreu há mil anos teria levado a esta pessoa específica como ela é hoje. Se um homem no passado tivesse desposado uma mulher em vez de outra, seus filhos teriam sido diferentes. Isso, por sua vez, teria afetado todas as gerações subseqüentes – até os dias de hoje.

Isto tem implicações impressionantes. Um único casamento mil anos atrás poderia ter mudado cada pessoa viva hoje. Um casamento é, portanto, um evento de tremendas conseqüências. É um acontecimento miraculoso em mais de uma maneira.

Vamos presumir que nosso rapaz e nossa moça se casem, e que tenham uma “pequena” família, apenas dois filhos. Imaginemos que cada um de seus descendentes também tem uma família similar, em média dois filhos. Vemos novamente que o número de descendentes dobra a cada geração. (Na matemática, isso é conhecido como progressão geométrica). O casal tem dois filhos, quatro netos, oito bisnetos e dezesseis tetranetos. A cada geração, o número dobra. Mais uma vez, depois de dez gerações, este casal terá 1024 descendentes. Após vinte gerações, serão 1.048.576 descendentes. E após somente 24 gerações – uns meros 600 anos – haverá 16.777.216 descendentes. Este é um número muito aproximado da atual população judaica mundial. Assim, quando um casal decide se casar, esta é muito mais que uma decisão pessoal. É uma decisão que terminará por afetar todo o povo judeu. Isso explica porque um rapaz encontrando uma moça é um milagre tão grande, e tão cuidadosamente planejado por D’us.

Se um casal se encontra e decide se casar, então, no decorrer do tempo, todo judeu neste mundo terá em sua hereditariedade as características únicas que resultam daquela união. Se eles decidirem não se casar, então cada judeu no mundo será, em última análise, um pouquinho diferente. O mesmo se aplica à raça humana como um todo. De certa forma, o Talmud faz uma alusão a isso. Declara: “Por que Adam foi criado sozinho? Para ensinar que aquele que destrói uma única vida é considerado como se tivesse destruído um mundo inteiro. E quem salva uma única vida é considerado como se tivesse salvado o mundo inteiro.” A Torá nos diz que Adam foi um único indivíduo. Mesmo assim, todos os bilhões de pessoas vivas atualmente são descendentes de Adam e Eva. Todo casal que se casa é exatamente como Adam e Eva. No transcorrer do tempo, seus descendentes serão milhões, formando uma enorme população.

Independentemente daquilo que a pessoa faz, a formação de um casamento está nas mãos de D’us. Para que um casamento seja bem sucedido, deve ser arranjado no céu. É óbvio que se D’us está preocupado com o destino até do indivíduo mais insignificante, então Ele está ainda mais preocupado com a população do mundo inteiro. Porém cada casamento pode, a seu tempo, produzir toda uma população mundial. Criar um casamento é, portanto, como criar um mundo inteiro.

No dia em que uma pessoa é concebida, todas as forças da Providência colocam em ação as cadeias de eventos que levarão a seu eventual casamento. O Talmud ensina que nesta ocasião, é feito um anúncio lá no alto: “A filha deste homem será para aquele homem.” (...)

Imagine que você está jogando xadrez com um Grande Mestre Internacional. Embora você possa fazer qualquer movimento que deseje, ele pode manipular você à vontade por todo o tabuleiro. Não importa a jogada que você faça, ele sabe como responder para fazer o jogo sair da maneira que desejar. Ele pode determinar o resultado do jogo, praticamente à vontade.

Evidentemente, D’us é muito mais que um Grande Mestre. (...) Assim, não importa o que a pessoa faz, D’us pode arranjar as coisas para que ele ou ela encontre o par que lhe estiver destinado. Independentemente daquilo que a pessoa faz, a formação de um casamento está nas mãos de D’us.(...)

O Midrash relata que uma mulher certa vez perguntou a Rabi Yossi ben Chalafta: “Agora que D’us terminou de criar o universo, o que Ele faz?” O Rabi respondeu que “D’us agora faz casamentos, aproximando os pares para que possam casar-se.”

A resposta de Rabi Yossi nos faz vislumbrar uma percepção singular sobre o matrimônio. Todo casamento tem conseqüências para toda a humanidade. Portanto, toda vez que um casal se junta, é como se um mundo inteiro tivesse sido criado.

Rabino Aryeh Kaplan
Fonte: Beit Chabad

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