quinta-feira, 17 de julho de 2008

Negando a dicotomia Sagrado-Secular do Trabalho

Foi Martinho Lutero mais do que qualquer outro, que derrubou a noção de que clérigos, monges e freiras engajavam-se em trabalho mais santo do que a dona de casa e o comerciante. Calvino rapidamente acrescentou seu peso ao argumento. Os Puritanos foram unânimes em seguir a direção de Lutero e Calvino.

Como os Reformadores, os Puritanos rejeitaram a dicotomia sagrado-secular. Willian Tyndale disse que se olhamos externamente “há diferença entre lavar louças e pregar a palavra de Deus; mas no tocante a agradar a Deus, nenhuma em absoluto”.

William Perkins concordou: “A ação de um pastor em guardar ovelhas... é um trabalho tão bom diante de Deus como a ação de um juiz ao sentenciar, ou um magistrado ao regulamentar, ou de um ministro ao pregar”. Esta rejeição da dicotomia entre trabalho sagrado e secular teve implicações de longo alcance.

Primeiro, considera toda tarefa de valor intrínseco e integra toda vocação com a vida espiritual de um cristão. Torna todo trabalho conseqüência, tornando-o a arena para glorificação e obediência a Deus e expressão do amor pessoal (através do serviço) ao seu próximo. Assim Hugh Latimer viu no exemplo de Cristo a verdadeira dignidade de todo trabalho:

“Isto é uma coisa maravilhosa, que o Salvador do Mundo, e o Rei acima de todos os reis, não se envergonhou de labutar; sim, e de usar tão simples ocupação. Aqui Ele santificou todas as espécies de ocupações”.

John Dod e Robert Cleavert escreveram que: “o grande e reverendo Deus nunca despreza um ofício honesto... mesmo sendo bem humilde, mas o coroa com sua benção”.

A convicção Puritana quanto à dignidade de todo trabalho tem também o importante efeito de santificar o comum. John Cotton disse isso sobre a habilidade da fé cristã de santificar a vida e o trabalho comum:

“A fé... encoraja um homem em seu chamado por mais simples e difícil... A tais empregos simples um coração carnal não sabe com submeter-se; mas agora a fé havendo-nos convocado, se requer algum emprego simples, encoraja-nos nele... Assim a fé dispõe-se a abraçar qualquer serviço simples que faz parte do seu chamado, no qual um coração carnal ficaria envergonhado de ser visto”.

William Perkins declarou que as pessoas podem servir a Deus “em qualquer espécie de chamado, embora seja apenas varrer a casa ou guardar ovelhas”. Nathaniel Mather disse que a graça de Deus “espiritualiza toda ação”; mesmo as mais simples, como “um homem amar sua mulher e filho”, torna-se “atos graciosos”, e o “seu comer e beber são atos de obediência e, portanto, acham-se em grande conta aos olhos de Deus”.

Para os Puritanos, toda a vida era de Deus. Seu objetivo era integrar seu trabalho diário com sua devoção religiosa a Deus. Richard Steele afirmou que era na oficina “onde se pode mais confiantemente esperar a presença e benção de Deus”. Os Puritanos revolucionaram as atitudes em relação ao trabalho diário quando levantaram a possibilidade de que “cada passo e aspecto do seu ofício é santificado”.

John Milton, na sua famosa Areopagitica, satirizou os homens de negócios que deixam sua religião em casa e “comerciam todo o dia sem sua religião”. Thomas Gataker não viu tensão entre o sagrado e o secular quando escreveu:

“Um homem não deve imaginar..., quando é chamado para ser um cristão que deve prontamente rejeitar todos os empregos seculares... e dedicar-se inteiramente... a oração e contemplação, mas deve reter tanto um chamado com o outro, seguindo àquele junto ao outro”.

O objetivo Puritano era servir a Deus, não simplesmente no trabalho no mundo, mas através do trabalho. John Cotton aludiu a isto quando escreveu:

"Um verdadeiro crente... vive na sua vocação pela sua fé. Não apenas minha vida espiritual mas até minha vida civil neste mundo, e toda a vida que vivo, é pela fé no Filho de Deus: ele não isenta qualquer parte da vida da agência de sua fé”.

Cotton Mather disse:

“Um cristão deveria ser capaz de prestar boa conta, não somente do que é sua ocupação, mas também do que é na sua ocupação. Não é bastante um crente ter uma ocupação; ele deve cuidar de sua ocupação como convém a um crente”.

Com a ênfase Puritana em que toda vida é de Deus, não surpreende que um panfleto intitulado “São Paulo, o Fazedor de Tendas” pudesse observar que o movimento protestante havia produzido um ‘deleite nos empregos seculares'”.

L. Ryken

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