quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sobre Facção e Divisão

Acredito que já lhe adverti antes que, se não se pode manter o seu paciente afastado da igreja, ao menos devesse estar violentamente comprometido em alguma facção dentro dela. Não me refiro a verdadeiras questões doutrinárias; com respeito a estas, quanto mais morno seja, melhor. E não são as doutrinas no que nos apoiamos principalmente para produzir divisões: o realmente divertido é fazer que se odeiem aqueles que dizem "missa" e os que dizem "Santa comunhão", quando nenhum dos dois bandos poderia dizer que diferença há entre as doutrinas do Hooker e de Tomás de Aquino, por exemplo, de nenhuma forma que não fizesse água em cinco minutos. Tudo o que é realmente pouco importante — círios, vestimenta, sei lá eu — é uma excelente base para nossas atividades. Temos feito com que os homens esqueçam por completo o que aquele indivíduo pestilento, Paulo, costumava ensinar a respeito das comidas e outras coisas sem importância: ou seja, que o humano sem escrúpulos devesse ceder sempre diante do humano escrupuloso. Alguém acreditaria que não poderia deixar de precaver-se de sua aplicação a estas questões: esperaria ver o "baixo" clero ajoelhando-se e benzendo-se, não fosse que a consciência débil de seu irmão "alto" se visse empurrada para a irreverência, e ao "alto" abstendo-se de tais exercícios, não fosse empurrar à idolatria a seu irmão "baixo". E assim teria sido, a não ser por nosso incessante trabalho; sem ele, a variedade de usos dentro da Igreja da Inglaterra poderia haver-se convertido em um viveiro de caridade e de humildade.
Seu afetuoso tio, SCREWTAPE

Cartas do Diabo ao seu Aprendiz,
By C.S. Lewis

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